O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 13,75% em reunião nesta quarta-feira (03). O índice, reajustado pela 12ª vez consecutiva, é o maior registrado no Brasil desde dezembro de 2016, quando o indicador atingiu a mesma marca. Antes, a marca mais elevada ocorreu entre outubro e novembro de 2016, quando o indicador bateu 14%.

No mercado, analistas divergem sobre o futuro da taxa: uma ala acredita que o percentual deve se manter nesta marca até dezembro, enquanto outros apostam em um crescimento até 14%. Na última atualização feita pelo BC, em junho, a Selic foi elevada a 13,25%. E, agora, o aumento foi de 0,5 ponto percentual. Até maio, os comunicados da instituição indicavam que o ciclo de elevações poderia ser encerrado em junho.

​No entanto, as altas além do previsto - promovidas pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos) e do Banco Central Europeu - adicionaram pressão sobre os juros brasileiros. Nas justificativas, o Copom citou o ambiente externo "adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado.

O processo de normalização da política monetária nos países avançados tem se acelerado, impactando o cenário prospectivo e elevando a volatilidade dos ativos". O grupo afirmou que, no Brasil, houve "a retomada no mercado de trabalho mais forte do que era esperada pelo Comitê". Apesar de um certo otimismo no âmbito nacional, o Copom ressaltou que "permanecem fatores de risco em ambas as direções" em seus cenários para a inflação.

Em junho, o BC indicou que mirava uma inflação mais próxima do centro da meta o que a projeção de 4%. Isso leva uma corrente crescente de economistas a crer que a autoridade monetária não deve ser capaz - mais uma vez - de encerrar o ciclo de alta dos juros, já que as expectativas para o IPCA do ano que vem não param de se afastar do teto da meta (4,75%), com 5,33% no Boletim Focus.

Depois de altas nos últimos meses, as estimativas de inflação têm caído. A última edição do boletim Focus reduziu a previsão de inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 7,30% para 7,15% neste ano. Em junho, as projeções para o IPCA chegaram a 9%. No acumulado dos últimos 12 anos, o índice está em 11,89%. 

Para 2022, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2% e o superior, 5%. Os analistas consideram que o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.

Causas antigas

Professor de economia do Ibmec BH, Paulo Casaca destaca que o décimo segundo reajuste da Selic segue os mesmos motivos observados anteriormente: aumento da inflação e pressão inflacionária sobre a economia. No entanto, há uma causa adicional, ligada à PEC Kamikaze e demais medidas implementadas pela União para frear o preço dos combustíveis e conceder benefícios sociais à população. 

“O mercado diverge um pouco sobre como vai estar a Selic até dezembro. Alguns analistas avaliam de forma mais pessimista ou menos pessimista o impacto dessa PEC das bondades, dos estímulos que o governo fez para reduzir o preço da gasolina, entre outras medidas”, ressalta. Casaca afirma que entre os mais otimistas o pensamento é de que a taxa não cresça até dezembro ou tenha apenas mais um aumento até o final do ano, chegando ao teto de 14%. 

“Aqueles que são mais pessimistas com relação ao impacto desse gasto final esperam que a Selic cresça um pouco mais e fique e aí fique acima de 14%, 14,25%”, analisa o economista. Para a população, o impacto é o mesmo do que já vem sendo observado nos últimos meses. “Fica mais caro o financiamento, fica mais caro crédito, parcelamento de cartão de crédito, cheque especial. Acaba aumentando o custo da população que tem que pagar uma taxa de juros mais alta para qualquer tipo de crédito que ela precise”, assinala.

Taxa Selic

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle.

(*Com Agência Brasil e Folhapress)