Câmbio

Dólar abaixo de R$ 5: tendência é de curto prazo e moeda pode subir mais em 2022

Momento é janela de oportunidade para quem precisa comprar dólar, segundo especialistas, já que não se sabe até quando a baixa durará

Ter, 22/03/22 - 16h38

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O dólar iniciou esta semana abaixo dos R$ 5 pela primeira vez desde junho de 2021 e chegou a R$ 4,90 nesta terça-feira (22). Em junho do último ano, quando o valor da moeda também havia caído, o movimento durou uma semana antes que ela voltasse ao patamar de R$ 5, em que se instalou desde o início da pandemia. Desta vez, especialistas ponderam que o efeito pode durar mais tempo, mas deve se desfazer no curto prazo, por isso este momento é uma janela interessante para quem precisa comprar a moeda para viajar, por exemplo. Na perspectiva deles, o ano provavelmente será marcado por estabilização em um patamar elevado ou mesmo por novas elevações da moeda estrangeira quanto mais próximas estiverem as eleições presidenciais de outubro. 

Há espaço para que o dólar mantenha-se abaixo dos R$ 5 nos próximos meses e até durante todo o primeiro semestre, porém não há indicativos de que ele se aproximará do patamar de R$ 4 que foi registrado no início de 2020, antes da pandemia, pondera o economista do Banco BV Carlos Lopes. A variação do dólar para baixo neste momento, ele explica, é circunstancial, e as variáveis envolvidas nessa desvalorização não são capazes de sustentar uma queda prolongada. 

“Há espaço para o dólar cair mais do que hoje, com certeza. Mas baixar tanto até os R$ 4 depende não só de fluxo de investimento estrangeiro, mas de uma mudança de fundamentos econômicos no país. Ainda vemos inflação alta e a área fiscal com expansão de gastos públicos”, pontua o especialista. 

O professor de economia do Ibmec-BH Hélio Berni considera que o dólar se aproxima de um equilíbrio, em que, ainda que não desça até os R$ 4, também não voltará a se aproximar dos R$ 6 no curto prazo. “Das variáveis macroeconômicas, talvez a que seja mais difícil de prever seja a taxa de câmbio, pela série de determinantes que podem provocar oscilações. Acredito que a diminuição atual seja uma correção em relação àquela taxa que tivemos próxima a R$ 6. Hoje, estamos muito mais próximos de um equilíbrio próximo de R$ 5”, diz. 

Para quem planeja viagens ou outros investimentos em dólar, o momento é o mais oportuno do passado recente. “Esta é uma janela muito boa para quem vai comprar dólar. Para quem precisa fazer qualquer pagamento internacional, pagar importações, fazer algum tipo de investimento, financiamento etc. é um bom momento para comprar. Para quem pensa em viajar daqui uma semana, um ano, também acreditamos que seja um bom momento. Não sabemos até onde vai a queda, mas tem muito mais espaço para subir do que para cair a partir de agora”, aconselha o CEO e fundador da consultoria de câmbio WeCambio, Caio Pilato

O fluxo de investimentos no Brasil é maior, hoje, devido ao aumento da taxa Selic, tática utilizada pelo Banco Central para aumentar os juros e tentar frear a inflação. Com juros elevados, investimentos no país tornam-se mais rentáveis aos investidores estrangeiros. Países desenvolvidos como os EUA, porém, também iniciam o processo de aumentar os juros, tornando-se mais atrativos e potencialmente freando investimentos em nações emergentes, como o Brasil. 

O Federal Reserve (Fed, espécie de Banco Central dos EUA) declarou nesta semana que poderá aumentar a taxa de juros no país, o que não deve representar boas notícias para o câmbio no Brasil. “O investidor vai deixar seu dinheiro em um país com títulos mais seguros e juros altos ou em um emergente com risco de calote? Se os juros subirem rápido, pode haver elevação de R$ 0,10, R$ 0,15 do dólar por dia. Costumamos dizer que o dólar desce de escada e sobe de elevador”, diz Pilato. 

No médio prazo, as eleições podem desorientar todo o cenário, especialmente após a oficialização das candidaturas e o início das propagandas e debates eleitorais. “Se o mercado financeiro percebe algo que gere mal-estar para o andamento da economia brasileira a partir de 2023, pode ser que o mercado cambial refletia isso e gere oscilações não esperadas”, sinaliza o professor Helio Berni.  

Dólar em baixa pode aliviar inflação no Brasil momentaneamente

A queda do dólar significa ao menos um fator a menos na pressão do aumento de preços no Brasil, segundo o professor de economia do Ibmec-BH Helio Berni. Essa diminuição não freia, sozinha, a inflação que se abateu sobre combustíveis e alimentos, por exemplo, contudo pode representar algum alívio. “Se temos um câmbio mais baixo, podemos ter preços de combustível menos elevado, por exemplo, porque parte da gasolina vendida do Brasil é feita com petróleo importado”, detalha o especialista.  

A guerra na Ucrânia impulsiona a inflação no Brasil e ajuda a encarecer da gasolina ao pão no dia a dia do brasileiro. Mas o conflito também é um dos motivos para explicar a valorização do real frente ao dólar. A guerra elevou o valor das commodities e, com isso, o fluxo de dólares a países exportadores, como o Brasil, aumentou. Por outro lado, caso a dimensão do conflito se expanda e a Rússia ataque algum dos países-membro da Otan, por exemplo, o cenário muda de figura e o dólar pode disparar, explica o economista Carlos Lopes. “A guerra não tem provocado essa aversão substancialmente e o mundo segue relativamente tranquilo. Mas, se a guerra evoluir, a aversão ao risco aumentará”, conclui.

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