Puxada pelos efeitos negativos gerados pela tragédia da Vale em Brumadinho, a indústria extrativa foi a maior responsável pela retração de 1,1% na produção industrial no Brasil em 2019. 

Sem a queda registrada no setor, o país veria um cenário de estabilidade no índice, com avanço de 0,2% na produção. 

Só entre novembro e dezembro, houve retração de 0,7% na indústria em geral. 

Os números do ano passado interrompem dois anos seguidos de crescimento, entre 2017 e 2018. As informações foram divulgadas nessa terça-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

“Especificamente na produção de minério de ferro, que recuou bastante devido ao ‘efeito Brumadinho’, vimos a produção industrial ser afetada durante todo o ano. Isso trouxe reflexos importantes na indústria como um todo”, analisa André Macedo, técnico do instituto. 

O especialista detalha que, em resultados parciais mensurados até novembro, Minas acumulou queda de 4,9% na produção industrial. 

Só no setor extrativo, a retração foi de 24,1% no período, contra 9,7% no acumulado até dezembro em todo o país. 

Os números completos de produção industrial do IBGE para cada Estado serão divulgados no próximo dia 11.

Macedo explica que outros fatores, como a desaceleração das exportações brasileiras, impulsionadas pela crise política e econômica na Argentina, e o grande número de desempregados, também afetaram o crescimento. 

Das quatro macro atividades estudadas pelo IBGE, três registraram quedas na produção. Além disso, 17 dos 26 ramos pesquisados observaram resultados negativos no ano passado.

Os resultados observados neste ano foram aquém do esperado pelo mercado e setor produtivo, indica o economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Marcos Marçal. 

As perspectivas iniciais eram de queda de 0,5% na produção em dezembro em relação a novembro do ano passado e retração de 0,65% no acumulado do ano. Para os próximos meses, há incerteza para a indústria, diz Marçal. 

Fatores como aumento nos índices de confiança do empresariado e queda na taxa de juros podem significar melhora no cenário. 

Contudo, o setor ainda está refém das crises internacionais, como a da Argentina e o que pode ocorrer na China após o coronavírus.

Produto Interno Bruto de Minas 

Responsável por 24,6% de toda a produção industrial mineira, o setor extrativista foi determinante para o resultado negativo do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. 

No levantamento mais recente, referente ao primeiro semestre do ano passado, a queda no setor praticamente zerou o crescimento do índice. 

Segundo divulgado pela Fundação João Pinheiro (FJP), o crescimento da economia de Minas foi nulo no período, ante expansão de 0,7% no total do país. 

Na época, o relatório divulgado pela instituição cravou que, devido ao rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho, a produção extrativa no Estado recuara 22,2%. 

A fundação explicou que o acontecimento ocasionou “supervisão mais rigorosa das demais barragens à jusante”, o que acarretou em suspensão temporária da operação de várias minas no Estado. 

Salvou

Entre as atividades com resultados positivos, estão as indústrias de produtos alimentícios, com avanço de 1,6%, e a de bebidas, que cresceu 4,0% no ano passado.

Patamar no Brasil está nos níveis de 2009 

A queda de 0,7% registrada pela indústria em dezembro ante novembro aumentou a distância entre o patamar de produção atual e o ponto mais elevado já registrado na série histórica da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em dezembro, o patamar de produção estava 18,0% menor que o auge alcançado em maio de 2011. 

“Com aquela sequência de resultados positivos de agosto a outubro, o patamar (de produção) melhora, vai para março de 2009. E agora, com esses dois resultados negativos, volta para janeiro de 2009. Esses dois meses de quedas totalizaram uma perda de 2,4%, que eliminam aquele avanço que teve de agosto a outubro. Esse é o pior patamar de produção desde maio de 2018, quando teve a greve de caminhoneiros”, observou André Macedo. 

No mês de dezembro, a fabricação de bens de capital estava 41,9% abaixo do pico de produção registrado em setembro de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operavam 28,5% aquém do ápice de produção visto em junho de 2013. 

Já os bens intermediários estavam 17,5% abaixo do pico visto em maio de 2011, e os bens de consumo semi e não duráveis operavam 10,8% aquém do auge registrado em junho de 2013. (Com agências)