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Evasão de planos de saúde multiplica clínicas populares

Atendimento médico por até R$ 76 é o grande diferencial desse mercado, que cresce com a crise

Por Juliana Gontijo
Publicado em 12 de junho de 2017 | 03:00
 
 
Expansão. Segundo Rodirley Diniz, entre julho do ano passado e maio deste ano, a Dr já passou de 13 pacientes por dia para 651 Foto: Moisés Silva

Qualquer pessoa mais atenta percebe que as clínicas médicas com preços mais acessíveis têm-se espalhado por Belo Horizonte e região metropolitana. E o motivo para essa expansão, segundo os proprietários desses empreendimentos, foi a crise, que reduziu postos de trabalho e o rendimento da população. “Muitas pessoas perderam emprego e, logo, o plano oferecido pelas empresas, além da capacidade de manter um serviço privado. E o SUS, há muitos anos já sucateado, ficou ainda mais sobrecarregado. A alternativa para muitas pessoas é a clínica popular, já que as consultas particulares são caras para a maior parte da população”, observou a professora do curso de pós-graduação em gestão de clínica da UNA Tiziane Madureira.

Não há dados oficiais sobre o crescimento das clínicas populares no Brasil, mas um indicativo é a alta de 17% no faturamento de franquias do segmento de saúde, beleza e bem-estar registrada no país no primeiro trimestre deste ano. Os dados são da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que aponta que o segmento só tem desempenho pior que o do setor alimentício.

“As clínicas com preços mais acessíveis, que já existiam, começaram a se intensificar no ano passado”, diz o fundador da rede de franquias Acesso Saúde, Antonio Carlos Brasil. A primeira clínica aberta por ele foi em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, em 2006. Hoje, já são 26 unidades em 14 Estados. “Até o fim deste ano, serão mais 24”, diz o empresário.

Com sede em Curitiba, a Acesso Saúde tem hoje duas unidades em Minas Gerais, uma em Montes Claros (Norte de Minas) e outra em Belo Horizonte, na região do Barreiro. “Em julho, serão mais duas na capital mineira, uma na região Noroeste e outra em Venda Nova”, conta. Para 2018, estão previstas unidades na região metropolitana de Belo Horizonte, nas cidades de Contagem e Betim, além de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

Franqueado da unidade do Barreiro, João Márcio Franco Maia é um dos empreendedores que apostaram nesse nicho, que acabou se tornando um negócio de toda a família. “Eu escolhi uma franquia para reduzir o risco em razão da expertise. Sou engenheiro e trabalhei com gerenciamento de projetos, o que ajuda na abertura de um negócio, mas não sou da área da saúde”, observa. Na unidade, as consultas variam de R$ 76 a R$ 96, dependendo da especialidade médica.

A especialista Tiziane Madureira observa que o preço é o grande atrativo das clínicas. Segundo ela, o valor de uma consulta particular, dependendo da especialidade médica, varia de R$ 180 a R$ 350. “Só que há casos que ultrapassam esses valores”, diz. E o setor de clínicas populares vem atraindo cada vez mais empreendedores. É o caso da jornalista e hoje empresária Luciane Lisboa, que há cerca de três meses inaugurou uma clínica em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, a Super Saúde. Em pouco tempo de atuação, ela já faz um balanço positivo do desempenho da clínica. “Venho crescendo mês a mês. Em abril, frente a março, por exemplo, o faturamento teve alta de 32%”, diz. Ela conta que a clínica oferece ao cliente um cartão de desconto, que tem uma anuidade de R$ 35. Com ele, a consulta passa de R$ 110 para R$ 89.

O sócio da Saúde Plena, Alexandre Veloso Pimenta de Figueiredo, ressalta que, com a crise, muitas pessoas pararam de pagar plano de saúde. Conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em março deste ano, o país contava com 47,5 milhões de pessoas com plano de saúde, o que significa uma redução de 1 milhão de pessoas na comparação com março de 2016. “Um plano com uma boa cobertura chega a custar R$ 800 para uma pessoa jovem. No caso de um idoso, o mesmo plano custa cerca de R$ 2.000. E mesmo assim não resolve o problema, já que a pessoa tem que esperar um bom tempo para marcar uma consulta”, observa Veloso.

A agilidade no atendimento foi o que levou o estudante Anderson Montalvan Magalhães, 24, a procurar a clínica Dr. Já, em Belo Horizonte. “Minha tia indicou a clínica. Ela gostou do atendimento. Eu também fiquei satisfeito com a forma como fui tratado pela atendente e pelo médico”, conta.

Em maio. O reajuste dos valores dos contratos individuais e familiares autorizado pela ANS foi de até 13,55%. O percentual é mais que três vezes a inflação de 12 meses até abril (4,08%).


Opções em conta

Endereços de clínicas e pronto atendimentos mais acessíveis em BH:

Super Saúde: avenida Brasília 1238-A, bairro São Benedito, Santa Luzia

Saúde Plena: Padre Pedro Pinto, 1260 - Venda Nova

Acesso Saúde: avenida Sinfrônio Brochado, 1400 - Barreiro

Dr. Já (pronto atendimento): praça Hugo Werneck, 166 - Santa Efigênia

Doutor Agora (pronto atendimento): rua dos Timbiras, 1228 - Funcionários

FOTO: Douglas Magno
Acesso Saúde tem consultas com 16 especialidades médicas


Serviço de urgência com preço acessível

Mesclando pronto-atendimento e consultas com especialistas, a Dr. Já começou a atuar no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, em julho do ano passado. “A demanda vem crescendo mês a mês. No primeiro mês de atividade, tivemos 13 pacientes. Em maio deste ano, atendemos 651 pessoas”, conta o diretor técnico Rodirley Andrade Diniz. O valor do serviço do pronto-atendimento é de R$ 95, e a consulta com especialista custa R$ 129.

O diretor executivo da Doutor Agora, Maurício Rodrigues Botelho, diz que duas unidades devem ser abertas até o fim do ano, uma em Brasília e outra em São Paulo. “Estamos negociando com fundos de investimento e num prazo de cinco anos devemos abrir de dez a 30 unidades, de acordo com o mercado”, diz. Ele ressalta que o conceito do Doutor Agora é atender pacientes com urgências de baixo risco. O valor cobrado (que inclui os exames oferecidos) é de R$ 165.