Aplicativo de mobilidade

'Guerra dos aplicativos' reduz tarifas em 40%

Com maior disputa no mercado, passageiros conseguem bons descontos

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 06 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
Concorrência. Camila Fraga tem quatro aplicativos de mobilidade cadastrados em seu celular e sempre está atenta aos descontos Foto: FERNANDA CARVALHO

A concorrência pelo passageiro de táxi na capital mineira se acirrou após a chegada do Uber em setembro de 2014. Hoje, já são sete aplicativos, tanto de carros particulares como de táxis que oferecem desconto, disputando passageiros em Belo Horizonte. E quem ganha é o cliente, já que os descontos, em média, chegam a 40,5% em uma corrida feita em um táxi abordado nas ruas. Uma corrida no Cabify, que chegou em outubro de 2016, chega a ser até 15% mais barata do que uma no Uber.

“A vantagem da Cabify é que no nosso cálculo só envolve a distância percorrida, enquanto os correntes consideram o tempo da corrida”, explica Diogo Cordeiro, diretor geral do aplicativo em Belo Horizonte. Ele não informa qual é a frota da Cabify hoje na cidade, mas afirma que o crescimento da frota tem sido de 80% por mês.

A gerente de marketing Camila Costa Fraga tem preferido o Cabify para se locomover. “Faz toda a diferença o preço ser menor. Na Cabify, economizo até R$ 7 na comparação com o Uber”, conta. Com a concorrência, Camila tem mais opção e tem quatro aplicativos cadastrados no celular: Cabify, Uber, 99 Táxis e Easy Táxi. A escolha de qual usar fica a cargo do tempo disponível. “Uso Uber, 99 Táxis e Easy Táxi também. Tudo depende da pressa que estou e o tempo de atendimento. O Cabify, às vezes, demora”, conta Camila.

Além do Cabify, a WillGo também oferece um serviço semelhante ao do Uber na capital, com tarifa parecida. Porém, o app não tem tarifa dinâmica e permite ao usuário “favoritar” um motorista, fidelizando-o ao condutor. Outra opção para viagens intermunicipais é a Blablacar, que atende a região metropolitana, com viagens para Contagem, Betim e Nova Lima. A diferença é que o objetivo não é o motorista ganhar dinheiro, mas economizar na corrida. Ele cadastra a viagem e oferece até quatro vagas no carro. O preço é sugerido pelo app, mas o condutor pode aumentar em até 50% o valor.

Diante da concorrência, os aplicativos de táxi 99 Táxis, Easy Táxi e Femitáxi incorporaram as promoções, e agora o cliente tem a opção de pedir o táxi com 30% de desconto, mas o motorista tem a opção de participar dessa modalidade ou não. “Eu participo da promoção de 30% porque temos que nos adaptar à realidade do mercado”, afirma a taxista do Femitáxi, exclusivo para atendimento de mulheres, Luciana Fortes, 43.


Custos

Alternativas aliviaram o orçamento

As constantes viagens entre Belo Horizonte e São Paulo do gerente de logística Rogério Lauton, 45, ficaram mais baratas, há cerca de um ano, quando ele começou a utilizar o app Blablacar, que permite a carona em viagens intermunicipais. “Estou há dois anos em Belo Horizonte a trabalho, e minha família ficou em São Paulo”, conta. Com o aplicativo, ele oferece caronas a cada 15 dias em média.

“Agora, sempre tenho companhia para viajar, e tem a vantagem que fica mais barato”, diz. Segundo Lauton, os custos da viagem com gasolina e pedágios são cobertos pelo valor das caronas. “Não dá para falar que todos os custos da viagem ficam cobertos, porque tem a manutenção do carro”, explica.
A Blablacar chegou ao Brasil no início de 2016 e já foi responsável por mais de 1 milhão de caronas no país. (LP)

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Jeitinho

Motoristas são ‘agentes duplos’

A demanda por táxis nas ruas de Belo Horizonte caiu entre 60% e 70% nos últimos dois anos. A situação tem levado taxistas a se cadastrarem no Uber. “Minha demanda no ano passado foi 70% menor do que nos anos anteriores. Por isso me cadastrei no Uber e hoje atendo os dois, quem chamar primeiro”, afirma um motorista de táxi que pediu para não ser identificado. “Tenho vários colegas que estão fazendo o mesmo, mas a gente não divulga muito porque outros taxistas podem se incomodar. No Rio de Janeiro, chegaram a queimar o carro de um taxista que estava rodando com o Uber”, relata. O motorista conta que conseguiu fazer seu cadastro no aplicativo normalmente, já que é dono do veículo, mesmo com a placa vermelha. A assessoria de imprensa do Uber, porém, afirma que se trata “de um erro” já que o aplicativo aceita apenas veículos com a placa cinza.

Só mulheres. Com o intuito de se diferenciar no mercado, Luciana Fortes, 43, que atua como taxista há 17 anos, começou a atender pelo app Femitáxi, que chegou à capital em janeiro deste ano. “É uma forma de oferecer um diferencial e concorrer com os aplicativos de motorista particular”, conta. “Desde que o Uber chegou, vi minha demanda cair até 60%. Por isso busquei alternativas. Hoje atuo com 30% de desconto para o 99 Táxis e para o Femitáxi.”

O Femitáxi tem hoje 60 motoristas mulheres na capital e em 30 dias já realizou cerca de mil corridas, segundo Charles-Henry Calfat, CEO da empresa. (LP)

Prefeitura

Justiça. A prefeitura não fiscaliza os apps de transporte na cidade. O órgão diz que a discussão sobre a legalidade deles está na Justiça, o que impede a fiscalização. O Uber funciona com uma liminar.


Segurança é a preocupação

A migração tanto de usuários como de motoristas do Uber para outros aplicativos está ligada, além da questão dos preços, à falta de segurança. “Não gostei quando o Uber parou de avisar sobre a tarifa dinâmica e depois ouvi relatos de violência nos carros. Ainda uso, mas prefiro outros aplicativos”, conta a gerente de marketing Camila Costa Fraga.

O motorista Guilherme de Abreu Vieira trocou o Uber pelo Cabify. “A seleção dos motoristas é mais criteriosa, temos que fazer teste toxicológico, e o treinamento é presencial”, conta Vieira. “A questão financeira é melhor na Cabify, porque temos premiações.” (LP)