Arcos de unicórnio, cerveja em lata, catuçaí, glitter biodegradável e pochetes são alguns dos diversos produtos que o folião que vai curtir o Carnaval de Belo Horizonte encontrará pelas ruas. Com a popularização da festa na capital mineira, que deve ter cerca de 4,5 milhões de pessoas em 2019, segundo dados da Belotur, a prefeitura cadastrou 13.111 ambulantes para atender os foliões. Mas, para além dos inscritos, vários outros vão aproveitar a folia para lucrar. Ambulantes, autônomos e informais também estão otimistas com a festa nas ruas da capital.

A artesã e estudante Adrielle de Oliveira, 27, viu no crescimento da festa a oportunidade para transformar diversão em rentabilidade. Em 2017, com um estoque grande de glitter para usar como adereço nos blocos, resolveu vender parte para amigos. O negócio cresceu e ganhou até nome. O “É pra Brilhar!” dura o ano todo, mas é no período que antecede o Carnaval que as vendas explodem. “Como estudo, trabalho e sou mãe, geralmente produzo entre 23h e 5h. No ano passado, vendi mais de 2.000 tubos de glitter e tive um retorno de uns R$ 3.000, para mais”, conta.

Para 2019, o dinheiro, que começou a entrar desde o início do ano, já tem destino certo. “Uso o dinheiro para viajar com meu filho e pagar algumas dívidas. Este ano, vou guardar para investir no meu TCC e consertar meu computador. Se sobrar, irei viajar de novo”, planeja Adrielle.

Ainda faltando um mês para a festa, o relações públicas Italo Duarte, 38, já está lucrando com a venda de catuçaí – um misto de Catuaba Selvagem e açaí – em festas particulares. Mesmo não tendo a certeza se poderá comercializar a bebida durante o Carnaval, Duarte pediu o credenciamento junto à PBH. Ele, que é dono de uma sorveteria no bairro Salgado Filho, na região Oeste, já está comercializando a bebida nos ensaios de blocos que já movimentam a capital. “Pedi a credencial para me resguardar, mas acredito que o produto ainda não será aceito, por isso comercializo nas festas particulares”, afirma.

Segundo as normas do edital de credenciamento da Belotur, os ambulantes só poderão comercializar bebidas e adereços carnavalescos. Garrafas de vidro e bebidas fracionadas serão proibidas. Apesar de não ter colocado na ponta do lápis os valores investidos para produzir os catuçaís, Duarte pretende, até o término do Carnaval, vender 10 mil garrafinhas de 300 ml, que custam R$ 6 cada.

Nas ruas. O número de ambulantes registrados para atuar neste ano já vai ser 36,31% maior do que os 9.618 que trabalharam em 2018, segundo a Belotur. O empresário Cleber Emerson, 46, resolveu este ano aproveitar a festa de um jeito diferente: vendendo bebidas. “Entrei nessa onda com a indicação do meu cunhado. Vamos vender próximo aos blocos e onde tiver mais fluxo de pessoas”, conta. O empresário solicitou o cadastro junto à Belotur e aguarda a credencial ficar pronta para montar o estoque. “Quero investir o menos possível, mas acredito que, para início, não passaria de R$ 1.000”, prevê.

A vendedora Eliane Silva Cunha, 35, perdeu o prazo para o credenciamento, mas isso não será empecilho para que, pelo segundo ano consecutivo, venda bebidas no Carnaval. Além de cervejas, Eliane, que tem um food-truck, pretende investir cerca de R$ 2.000 e espera o receber o dobro, igual ao ano passado. Mesmo sabendo que, se for pega pela fiscalização da PBH, pode ser multada em R$ 2.000 e ter a mercadoria apreendida, segundo a vendedora, a renda compensa. “O Carnaval é uma oportunidade para que pessoas ganhem um dinheirinho e façam um pé de meia”, conta ela.

Vendas de produtos começam na internet

No Carnaval de 2018, a analista de marketing Flora Silberschneider, 24, começou a produzir pochetes personalizadas. Desempregada na época, contou com a criatividade e tutoriais no YouTube para fazer uma para uso próprio e não parou mais. “Do nada, bombou! Vendi mais de 120 pochetes”, diz. Hoje, mesmo empregada, usa o tempo livre e o perfil nas redes sociais para vender o produto. Neste ano, em apenas uma semana, vendeu cem pochetes.

Quem também tem apostado nas redes sociais é a artesã Gladys Mara Goulart, 59. Viúva há 12 anos, viu na festa a oportunidade de complementar a renda e ajudar na criação da filha. “Já estou no terceiro Carnaval. Faço tiaras, coroas, ombreiras e neste ano estou fazendo brincos”, conta. Com baixo investimento, a artesã consegue tirar, em média, R$ 2.000 no período da festa, que, para ela, dura muito mais do que os quatro dias. “Acabou os fogos da passagem de ano o povo já começa a procurar. Este é o meu período de venda”, brinca.

Quintal de casa vira negócio

O Carnaval de BH se tornou também a oportunidade ideal para ganhar dinheiro até sem sair de casa, como o contador Ítalo de Carvalho Pieroni. Todos os anos, ele vende bebidas e macarrão na chapa na garagem de casa. Para usar o banheiro, que ele garante sempre estar limpo, ele cobra entre R$ 3 e R$ 5. “A proposta do Carnaval na garagem deu tão certo que neste ano teremos até apresentação musical, com um trio de cantoras. Tudo já regularizado com a PBH”, garante.

O gerente de vendas Mário Damião de Oliveira também aproveita o fluxo dos blocos para lucrar. Da porta de casa ele vende bebidas, churrasquinho e outros petiscos. “Funciono de sábado a terça-feira e chego a vender mais de cem espetos por dia. É uma alegria”, conta ele.

Legislação. O advogado especialista em imóveis Allan Milagres destaca que qualquer tipo de comércio, dentro ou fora de casa, deve funcionar de acordo com o Código de Posturas do Município. “Na capital, por exemplo, não é porque é um imóvel particular que pode fazer o que quiser. A prefeitura precisa vistoriar o local e emitir um alvará de funcionamento”, explica.

A PBH informou que o cidadão que atuar sem autorização está sujeito a multa, que é estipulada de acordo com o metro quadrado do imóvel, e também pode ter a mercadoria apreendida.