Ascensão

Marketing multinível dá renda  

Modelo comercial de vendas diretas registra 4,6 milhões de empreendedores desse tipo no país

Sex, 26/02/16 - 03h00
Bom negócio. Iriane trocou uma loja de roupas para atuar nas vendas diretas e já está faturando | Foto: JAQUES DIOGO /O TEMPO

Baixo investimento, flexibilidade de horário, resultados rápidos e produtos de qualidade reconhecida são alguns pontos que estão atraindo profissionais de várias áreas para as vendas diretas e para o marketing multinível. “Eu tinha uma loja de roupas na qual investi R$ 30 mil. Diante da queda nas vendas, optei por entregar a loja para minha sócia e investir em uma loja virtual, no esquema multinível e estou adorando. Fiz um investimento de R$ 1.800 e já ganhei, em 21 dias, R$ 3.600”, conta a bailarina Iriane Martins, 41.

Para o especialista em marketing do Sebrae-MG Fábio Bastos Pretuceli, o modelo multinível é uma boa alternativa para quem foi atingido pela recessão. “Cerca de 54% das pessoas que aderem a uma empresa que utiliza o marketing multinível não têm uma atividade formal, ou outra fonte de renda”, afirma Pretuceli. “A vantagem foi me desfazer dos custos fixos de aluguel, condomínio, e conseguir retorno em pouco tempo. Inclusive tenho apresentado a proposta da empresa para outras pessoas que também estão no comércio e a receptividade tem sido boa”, relata Iriane.

Para Pretuceli, o modelo comercial está em crescimento. No ano passado, quando o varejo do país sofreu uma retração de 4,3% segundo o IBGE, dados da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) mostram que o volume de negócios do setor apresentou uma pequena queda de 0,8%, passando de R$ 41,6 bilhões em 2014 para R$ 41,3 bilhões em 2015. Por outro lado, o número de revendedores cresceu 3,6%, passando de 4,4 milhões para 4,6 milhões.

“As vendas diretas têm realmente essa vantagem. O custo para entrar é baixo, os resultados são rápidos, proporcionais ao envolvimento do empreendedor, e a pessoa pode entrar ou sair, quando quiser”, explica a diretora executiva da ABEVD, Roberta Kuruzu.

Ela explica que o marketing multinível “é uma espécie dentro do gênero venda direta”. “A venda direta é aquela que não utiliza uma loja, qualquer pessoa pode vender. Já o marketing multinível permite que essa pessoa se associe a outras para aumentar as suas vendas, por isso que também é chamado de marketing de rede. A pessoa pode criar uma rede de vários vendedores”, informa Roberta.

Não é pirâmide. Fábio Pretuceli também diferencia o marketing multinível dos esquemas de pirâmide. “São muito diferentes. No multi-nível, o foco é na venda de produtos. As empresas ganham dinheiro vendendo produtos e são reconhecidas pelo mercado. Hoje em dia, até a Nestlé usa marketing multinível. Avon, Natura e Jequiti são outros exemplos. Já na pirâmide, o foco é na adesão de um número cada vez maior de pessoas. E normalmente, a pessoa que vai aderir precisa fazer uma compra muito grande, um investimento grande para entrar”, diz.

Cuidado é com redes piratas

Os interessados em aderir ao marketing multinível devem tomar cuidado para não se associarem a empresas mal intencionadas. “Só em 2016, o Ministério Público de São Paulo já recebeu 80 denúncias de esquemas de pirâmides”, afirma o especialista em marketing do Sebrae-MG, Fábio Bastos Pretuceli.

A Telexfree é um exemplo de empresa que foi proibida de atuar no país, acusada de pirâmide financeira, após um pedido de 2013 do Ministério Público do Acre. A estimativa é que 1,5 milhão de usuários cadastrados com CPFs válidos faziam parte do negócio. 

Vendas exigem dedicação constante

As vendas diretas, incluindo o marketing multinível, como todo negócio, demandam empenho. A bailarina Iriane Martins, 41, afirma que atualmente dedica cerca de nove horas do seu dia à loja virtual e buscando interessados em aderir ao esquema de vendas. “Como estou começando e abri mão de outros negócios, estou me dedicando muito. Meu objetivo é chegar a uma renda mensal de R$ 70 mil”, planeja. Iriane é blogueira de moda e pretende utilizar seu blognaoacredito.com.br para divulgar a loja virtual.

Já o analista de sistema Andrew William de Castro Souza, 27, que já está no ramo há quase quatro anos, tem um horário menor com rendimentos que variam entre R$ 40 mil e 50 mil. “Hoje me dedico exclusivamente às vendas e na maioria dos dias, por cerca de duas ou três horas”, conta Souza que trabalha com sua mulher, a estudante de engenharia Andiara Alckmin de Freitas, 24. O casal já conta com uma equipe de cerca de 4.000 pessoas, que garantem um faturamento que varia entre R$ 400 mil e R$ 800 mil. Segundo Andrew, porém, a atividade demanda viagens constantes para treinamento de novos empreendedores. “Faço pelo menos três viagens por mês, porque muito do nosso trabalho hoje é auxiliar as pessoas que estão entrando na empresa”, diz.

Nos dois primeiros anos de atuação, o casal optou por manter empregos formais e tinham nas vendas diretas uma fonte de renda extra. “Depois disso, já não valia mais a pena manter os empregos. Hoje minha renda é pelo menos cinco vezes maior do que era quando eu trabalhava para os outros”, conta. 

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