Royalties

Minério rende mais impostos mesmo com queda na produção

A arrecadação subiu em ano marcado pela tragédia em Brumadinho

Por Rafaela Mansur
Publicado em 15 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
Fatores. Arrecadação da Cfem subiu por causa de mudanças de cálculo para o imposto e também pelo preço elevado do minério de ferro Foto: Vale/Divulgação - 14.6.2017

Apesar da queda na produção do minério de ferro, resultado do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, na região metropolitana, em 25 de janeiro de 2019, a arrecadação proveniente da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), conhecida como “royalties da mineração”, cresceu 48% no Brasil no ano passado, para R$ 4,5 bilhões, ante R$ 3,04 bilhões arrecadados em 2018. A redução da oferta do minério de ferro em um momento de alta demanda elevou a cotação da commodity, responsável por 76% da arrecadação, e foi determinante para a elevação do valor.

“Em função do rompimento da barragem, minas foram paralisadas e cerca de 50 milhões de toneladas de ferro deixaram de ser produzidas em Minas Gerais. Mas, como a cotação internacional estava elevada, o faturamento subiu bastante. A arrecadação da Cfem do minério de ferro só em Minas aumentou R$ 513 milhões em relação a 2018”, afirmou a gerente de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Cinthia Rodrigues. O preço médio da commodity em 2019 foi de US$ 92, ante US$ 70 no ano anterior. A arrecadação da Cfem do ouro também foi relevante e cresceu 50% no ano, devido ao aumento da produção e da cotação do produto no mercado internacional.

Outro fator que contribuiu para o crescimento da arrecadação foram os efeitos da Lei 13.540, que mudou as alíquotas e a base de cálculo do recolhimento do tributo. “A lei foi sancionada em dezembro de 2017, mas, como as mineradoras têm 60 dias para pagar a Cfem após a exploração, os municípios só sentiram os efeitos da legislação a partir de fevereiro de 2018. Em 2019, os reflexos da lei valeram o ano todo”, explica a economista da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig) Luciana Mourão. Antes, a arrecadação era calculada a partir do faturamento líquido das mineradoras, e, agora, o cálculo se dá sobre o faturamento bruto. No caso do minério de ferro, a alíquota passou de 2% para 3,5% do faturamento.

Segundo Luciana, o aumento do dólar também contribuiu para a arrecadação: enquanto a cotação média da moeda estrangeira ficou em R$ 3,65 em 2018, no ano passado, atingiu R$ 3,94. “A desvalorização cambial favorece as exportações”, diz.

Tendência

Para este ano, a expectativa é que a arrecadação seja, no mínimo, igual à de 2019, segundo Cinthia Rodrigues, apesar da queda já verificada no preço do minério de ferro, influenciada pelo surto de coronavírus na China. O país é o maior comprador do Brasil. “A expectativa é que se mantenha a arrecadação, porque vamos começar a ter a retomada do volume de produção. Uma coisa compensa a outra”, afirma a gerente do Ibram.

A própria Vale, em seu relatório sobre produção e vendas em 2019, diz que encerrou o ano com o “compromisso de retomar e de estabilizar sua produção”. A produção de minério de ferro da empresa caiu 21,5% em comparação com 2018.

Mina no Pará foi a maior responsável

Apesar de 12 dos 15 maiores municípios mineradores do país ficarem em Minas Gerais, em 2019 o Pará ultrapassou o Estado e se tornou o maior arrecadador da Cfem, responsável por 44,6% do total. Segundo a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig), até 2018, Minas mantinha a liderança – em 2019, o Estado arrecadou 40,7% do tributo.

“Isso (a liderança do Pará) iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Carajás vinha aumentando gradativamente a produção. Essa mudança já era esperada independentemente do que aconteceu em Brumadinho”, diz a economista da Amig Luciana Mourão. Congonhas, na região Central, foi o município mineiro com a maior arrecadação em 2019.

Distribuição

Nova lei. Os municípios mineradores ficam com 60% da arrecadação da Cfem; os Estados produtores ficam com 15%; a União recebe 10%; e os municípios afetados pela atividade, 15%.