Mercado concentrado

Setor premium de cervejas também está em alta

Segmento já responde por 15% do mercado consumidor

Por Rafaela Mansur
Publicado em 20 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
A Ambev responde por mais da metade da produção de cerveja no Brasil, segundo dados de entidades que representam o setor Foto: Denilton Dias/ O Tempo

De olho na mudança de hábitos dos consumidores cervejeiros, cada vez mais interessados em novidades e inovação, grandes marcas estão investindo no segmento premium, que cresce a cada ano e já corresponde a 15% do mercado, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil). Em 2019, o setor de cerveja cresceu 4% em produção, chegando a cerca de 13,8 bilhões de litros, conforme estimativa da entidade.

“Durante todo esse período de crise, o setor das cervejas premium, por atender gente de poder aquisitivo maior, ficou imune. Temos visto esse segmento crescer sistematicamente um ponto percentual a cada ano, com recessão ou não. Ele ocupava 11% do mercado e, agora, está chegando a 15%”, afirma o presidente da CervBrasil, Paulo Petroni. Por outro lado, ele destaca que as cervejas mais baratas também cresceram, impulsionadas sobretudo pelo desemprego, com alta de 20% para 26% do mercado.

Com a retomada da economia, a expectativa é que as marcas mainstream, que ocupam a maior fatia do mercado, voltem a crescer, em detrimento das mais baratas, e que as premium sigam em alta. “As empresas conseguem inovar mais por meio das marcas premium, seguindo o que os consumidores buscam, principalmente os da nova geração”, pontua Petroni.

Desse modo, as empresas também ganham: a líder de mercado, Ambev, considerou “moderado” o desempenho no terceiro trimestre do ano passado, segundo relatório divulgado em outubro, enquanto chamou de “animadores” os resultados do segmento premium, que cresceu dois dígitos no período. A empresa destacou a Budweiser como ponte para consumidores que estão ingressando nesse meio, além de marcas como Stella Artois e Corona.

A Heineken, que ocupa a segunda posição no mercado, registrou um leve recuo no volume de cervejas vendidas no terceiro trimestre no Brasil, em comparação com o mesmo período de 2018. Contudo, o segmento de bebidas premium cresceu dois dígitos, impulsionado por Amstel, Devassa e Heineken.

Muito concentrado, o setor de cerveja no Brasil está, basicamente, nas mãos de três grandes empresas, que, juntas, correspondem a 96% do volume de produção: Ambev, Heineken e Petrópolis. “Por mais que a gente vibre com crescimento das artesanais, que dobraram de tamanho nos últimos cinco anos, ainda há um trabalho muito grande pela frente. O peso da burocracia e as normas tributárias esmagam pequenos fabricantes, infelizmente”, afirma Petroni.

Para este ano, a expectativa da CervBrasil é de crescimento de 3% na produção de cerveja no país, segundo o presidente. “Vai depender muito de como a economia vai transcorrer, o desemprego, a inflação e a questão do câmbio, que nos preocupa. O cenário vai depender muito das reformas que o governo fizer”, diz.

A estimativa do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) é um pouco menos otimista, de crescimento de 2% em 2020. De acordo com a entidade, a previsão é de investimento de R$ 3 bilhões por parte das cervejarias no ano.

Clientes preferem qualidade a preço

Mais da metade dos consumidores de cerveja brasileiros prefere beber pequenas quantidades da bebida mais cara do que grandes quantidades de cerveja mais baratas, de acordo com uma pesquisa realizada pela Mintel. O levantamento mostra que esse comportamento é mais perceptível entre o grupo socioeconômico AB, em que 68% dos entrevistados priorizam a qualidade. Entre os consumidores da classe C, essa é a principal preocupação de 52% dos consumidores.

Em relação às motivações que levam os consumidores a experimentar novos tipos de cerveja, 42% dos entrevistados mencionam “um novo sabor ou um sabor inovador”. Essa razão é mais evidente entre as pessoas com 18 a 24 anos de idade, sendo citada por 53% delas.

Segundo a pesquisa, 38% dos consumidores acreditam que pequenas cervejarias independentes produzem cerveja de melhor qualidade do que as grandes empresas. Para 40% dos entrevistados, quando uma marca artesanal é comprada por uma grande companhia, a qualidade do produto cai. O levantamento aponta que os consumidores tendem a relacionar cervejas artesanais à qualidade dos ingredientes e a sabores inovadores.

A pesquisa também revela que os homens são mais propensos do que as mulheres a preferir cervejas nacionais: 47% ante 41%.