Estiagem

Sistema que abastece capital mineira e região está no limite

Complexo Rio das Velhas está hoje com vazão de água em cerca de 7 m³/s; só BH consome 6 m³

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 23 de outubro de 2014 | 16:33
 
 
Belo Horizonte consome toda a vazão do Rio das Velhas, segundo informações dadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas Foto: CBH Rio das Velhas

A vazão de água do Sistema Rio das Velhas, que alimenta a capital mineira e região, está atualmente em torno de 7 m³ por segundo, e apenas Belo Horizonte consome 6 m³/s. O Sistema Rio das Velhas abastece 40% da região metropolitana e 60% da capital. “O rio das Velhas continua oferecendo a vazão necessária, portanto faltar água para Belo Horizonte, no curto prazo, não é provável. Porém, não podemos pensar apenas na capital, o rio precisa continuar correndo, estamos sugando praticamente tudo o que ele produz de água”, alerta Marcus Vinicius Polignano, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas.


No Estado, 164 municípios já decretaram situação de emergência em função da seca ou estiagem, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. Na foz do rio das Velhas, em Várzea da Palma, o rio deveria ter uma vazão mínima de 150 m³/s e hoje ela não passa 40 m³/s.

O comitê irá acionar o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para que as mineradoras que têm barramento de água liberem suas vazões no rio. “O rio das Velhas é um dos afluentes do São Francisco, por isso é importante que ele receba essa ajuda”, diz Marcus Vinicius Polignano.

A Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Monitoramento das Águas do Igam informou nesta quinta que ainda não havia recebido o pedido do comitê, porém existe a possibilidade de adotar novas regras de operação nos reservatórios diante da ocorrência de eventos críticos na bacia hidrográfica. “A autoridade outorgante pode instituir regime de racionamento de água para os usuários”, explica o instituto por meio de nota.

Outro alerta feito pelo comitê é que as chuvas mais fortes, previstas para a segunda quinzena de novembro, resolverão apenas o problema imediato. “A chuva é só um elemento da cadeia da água. Se não tiver vegetação, matas ciliares, a água não é absorvida, o lençol freático não é alimentado e as nascentes secam”, explica Polignano.

Ele também lembra que, se a demanda por água continuar crescendo, os rios não conseguirão abastecer as cidades. “A população deve entender que as concessionárias não produzem água, elas captam e distribuem. Nos grandes centros, os empreendimentos impermeabilizam o solo e não captam água da chuva. Isso, na época das grandes chuvas, cria enchentes que também são prejudiciais, e a água não é aproveitada”, diz.

Para o presidente do comitê, é necessário repensarmos a gestão da água como um todo. “As cidades precisam começar a cuidar dos mananciais, das áreas verdes em torno das nascentes, ou os rios vão continuar secando”, concluiu.

Volta às aulas
Interior
. Na próxima segunda-feira, voltam as aulas nas escolas municipais de Formiga, após paralisação em função da falta de abastecimento de água. Nesta quinta, Oliveira retomou as aulas, paradas pela mesma razão.

Comitê afirma que é preciso repensar modelo de cidade

Para Marcus Vinicius Polignano, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, a solução da crise de água não passa, apenas, pela conscientização dos indivíduos. “Não basta responsabilizar o cidadão como se ele fosse um consumidor abusivo. Temos que pensar o modelo de cidade, envolver os empresários e pensar em ações de Estado maiores”, afirma.

Segundo Polignano, nas áreas urbanas é preciso repensar os empreendimentos. “É necessário rever o modelo de cidade. Adotar soluções que já existem em outros países, como reúso da água, captação de chuva, preservação de áreas estratégicas”, explica.

Dados do comitê mostram que o volume de chuvas está em declínio desde o início do século. Em 2001, a média de chuvas era 19% maior do que em 2013. “Existe uma tendência à acomodação após o período da chuva. Porém, temos que perder a cultura da abundância de água. Se outras medidas de proteção não forem tomadas, a seca dos rios vai acontecer de tempos em tempos ”, acrescenta.