Faz muito tempo que um capítulo inicial de novela não corre tão fluido. “Amor de Mãe”, nova trama das 21h, na Globo, teve ritmo, emoção, direção caprichada – com destaque para a cena final que sela o destino de Magno, personagem de Juliano Cazarré – e trilha sonora maravilhosa e encaixada na história. 

Manoela Dias apresenta suas personagens de forma competente, criando imediata empatia – e antipatia – com o público. Regina Casé, ao contar sua jornada do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro conquista a audiência e também sua interlocutora, à primeira vista, oculta. Lurdes, tanto em sua versão atual como na juventude (vivida por Lucy Alves) traz logo essa garra de mulher e de mãe. Força e quem enfrentou as adversidades para dar, aos filhos, uma vida com possibilidade de escolhas – e não só de ruptura, como foi a dela. 

Quando, vestida com seu conjunto amarelo de laise, Lurdes conhece Thelma (Adriana Esteves), fica claro que Lurdes é matriarca, o sol, da trama. É a mulher que não deixa de lado suas origens, não se esquece de suas batalhas e não perde as esperanças de encontrar seu Domenico. É a personagem que reunirá as protagonistas e seus núcleos, já que “Amor de Mãe” traz essa construção das histórias cruzadas por um acaso. A única cena desnecessária foi o discurso de Camila (Jéssica Ellen), a filha de coração. Já estava claro para o espectador, àquela altura do capítulo, que Lurdes é porreta.

Thelma e Vitória

Também quando revisita seu passado, Thelma, revela a fonte de seu amor superprotetor de mãe. Qualquer mãe que tenha visto a novela entende as atitudes da mulher, que quase perdeu seu filho e, agora, o cria dentro de uma redoma de vidro. Ao saber que seu tempo é curto, Thelma só quer deixar tudo organizado para que Danilo (Chay Suede) tenha uma vida boa. 
Já ao apresentar Vitória (Taís Araújo), a autora torna a empatia mais difícil para o espectador. Vitória é uma advogada que faz qualquer coisa para defender os interesses de seu contratante, seja ele culpado ou inocente; esteja ele certo ou errado. A maternidade – a partir de duas experiências diferentes – deve fazer com que a audiência dê uma chance a ela. 

A cena final

Além de apresentar as três estrelas da novela, Manoela acerta ao dar pinceladas de pistas sobre Magno, sua família e seu encantamento por Betina (Ísis Valverde), a médica que cuida do tratamento da filha dele. A cena final, sem cortes, com a câmera seguindo Magno rumo a um destino cruel, é boa saca de José Luiz Villamarim. O recurso cria o suspense necessário para o gancho que faz com que o espectador aguarde, ansioso, o próximo capítulo.