Quinta-feira, 28 de abril. Quando Tom Zé e Laura Catarina subirem ao palco da Autêntica, um novo capítulo será escrito na cultura de Belo Horizonte. Após oito meses de reformas, adequações e muita expectativa, a casa de shows voltará a funcionar em um local emblemático da capital mineira. Cravado à rua Álvares Maciel, 312, o imóvel tem história: sede do antigo Cine Santa Efigênia, que funcionou por quatro décadas até ser fechado em fevereiro de 1981, o espaço abrigou, de 1997 a 2011, a diversidade musical do saudoso Lapa Multishow. Nos últimos anos, o imóvel perdeu a destinação cultural e deu lugar a um estacionamento, até ser completamente fechado.
A noite de inauguração se aproxima. A ansiedade é inevitável. “Essa reta final não acaba nunca, são milhões de coisinhas pequenas para resolver. O coração fica disparado o dia inteiro, viramos noites parafusando coisas, trabalhando”, relata Leo Moraes, um dos cinco sócios que administram a Autêntica, cuja trajetória tem início na Savassi. Junto a Leo estão Luiz Prestes, Bernardo Dias, Tomás Gonzaga e Sérgio Lopes. A Autêntica baixou as portas em junho de 2020. Agora, o quinteto se prepara para a retomada.
Tom Zé e Laura Catarina farão as honras da abertura, mas diversos shows já estão marcados, e a agenda, recheada pelo menos até junho. Marina Sena, neste sábado (30), Alice Caymmi, Liniker, Fresno, Rincon Sapiência, Oreia, Boogarins, Far From Alaska, Angra, Clara x Sofia e Kdu dos Anjos são alguns dos nomes confirmados para pisarem no novo palco da Autêntica.
Rock, MPB, rap, forró, trap, funk e outros ritmos vão preencher o salão e fazer as paredes vibrarem. Artistas consagrados e nomes que estão despontando no cenário nacional vão se misturar numa programação que privilegia também a produção local, característica que vem desde os tempos em que a música rolava na Savassi.
“Desde o início, a Autêntica tinha essa relação de olhar para a música como um todo, mas sempre com uma relação muito próxima com a cena local. É um compromisso nosso. Não temos um recorte estilístico, nosso recorte é a música contemporânea com proposta autoral. Então cabe tudo: samba, indie, metal, nova MPB”, comenta Leo Moraes.
Para a música começar a rolar, uma série de adequações foram feitas, entre melhorias estruturais, conserto do telhado e da parte elétrica, ampliação dos banheiros e reconstrução do palco. A capacidade agora é de 1.200 pessoas. Sobre protocolos, os sócios dizem que a Autêntica cumprirá o que for determinado pela prefeitura e exigirá apresentação do passaporte vacinal com segunda dose ou do resultado negativo para Covid pelo RT-PCR realizado até 48 horas antes do evento ou teste rápido de antígeno realizado até 24 horas antes.
“O que estiver vigente é o que vamos adotar”, explica Leo Moraes, diretor de comunicação da Autêntica. O uso de máscara em lugares fechados ainda é obrigatório em BH. Para Tomás Gonzaga, a Autêntica tem dois desafios imediatos nessa retomada, que acontece em meio a uma constante flexibilização do setor cultural, mas ainda em um cenário de pandemia.
“O primeiro é construir uma operação que seja segura para artistas, público e todo mundo que trabalha no evento e respeite as orientações dos órgãos científicos. Por outro lado, seremos parte desse movimento de retomada. A cultura foi o primeiro setor a parar e o último a voltar. Enxergamos a Autêntica como mais um elo nessa retomada, mais uma força e mais um palco”, afirma Gonzaga, que assina a direção artística da casa.
Memória afetiva
Só o fato de reabrir o palco para artistas e bandas locais e de outras regiões do país após dois anos de tantas perdas em diferentes aspectos já seria motivo de celebração para o quinteto que faz a gestão da Autêntica. Voltar a funcionar em um local que nasceu para abrigar a cultura e não estava tendo esse fim é o “algo a mais”, a cereja do bolo.
Bernardo Dias, diretor executivo do espaço, diz que a chegada da Autêntica ao novo endereço tem muitos significados e acaba cruzando com a história dos cinco sócios, todos frequentadores do Lapa Multishow, fonte de inspiração para a criação da própria Autêntica.
Ocupar o imóvel da rua Álvares Maciel é a realização de um sonho. Mesmo antes da inauguração na Savassi, os sócios da Autêntica namoraram o ponto do antigo Lapa. “Alguns de nós são músicos, chegaram a tocar no Lapa, que foi muito representativo na nossa juventude, no início da nossa formação musical. Era ali que as bandas autorais tocavam, que artistas lançaram seus discos. O Lapa está no inconsciente não só da gente, mas do público”, observa Dias.
Até quinta-feira, o relógio vai correr ora ligeiro, ora devagar para os sócios da Autêntica. Sensações diversas – até ambíguas – se misturam à espera pela reabertura.
“Estamos com um foco muito grande nas questões práticas, burocráticas. No campo pessoal, estou como aquela criança esperando o Papai Noel passar com o brinquedo novo”, pontua Tomás Gonzaga. Para ele, devolver o simbólico imóvel com um fim cultural para Belo Horizonte é motivo para celebrar. “Ver esse espaço funcionando de novo como local de cultura e entretenimento da cidade é uma alegria, ainda mais por ser onde é, onde vivemos momentos tão legais”, acrescenta Gonzaga.
O Lapa deixou um vazio, emenda Leo Moraes, que agora será preenchido com a chegada da Autêntica. Reverenciando o passado e mirando o futuro, os sócios da casa de shows acreditam que sob o teto da nova Autêntica e em meio ao barulho da música um novo tempo vai começar em BH: “As pessoas estão sedentas pelo encontro, pela experiência ao vivo. O pessoal que conheceu o Lapa vai se lembrar dele e ter contato com a nova geração, que não conheceu, mas ouviu histórias. Acreditamos que vai marcar a vida de muita gente por aí. Estamos sentindo isso no ar”.
Inauguração
A Autêntica inaugura seu novo espaço (rua Álvares Maciel, 312, bairro Santa Efigênia) na noite desta quinta-feira (28), a partir das 20h, com shows de Tom Zé (22h30) e Laura Catarina (21h). Os ingressos estão esgotados. Informações sobre a programação estão no Instagram @autentica.bh e no site www.aautentica.com.br.