'A Beleza Salvará o Mundo'

Caio Blat e Luisa Arraes protagonizam último episódio de 'Amor e Sorte'

Idealizada pelo gaúcho Jorge Furtado, a série tinha como premissa que as histórias fossem protagonizada por atores que passavam a quarentena juntos

Ter, 29/09/20 - 12h31
"A gente lidava com essa ansiedade (de estar trabalhando monitorado por uma equipe) e ia se ajustando", lembra Blat, ao lado de Luísa Arraes | Foto: Sergio Zalis/Divulgação

Nome por trás da idealização da série global "Amor e Sorte", que já colocou no ar três episódios que podem ser considerados pepitas da teledramaturgia produzida sob a égide da pandemia, Jorge Furtado conta que a história "A Beleza Salvará o Mundo", que vai ar nesta terça-feira, às 22h55, encerrando o pacote, foi, na verdade, a que deu origem a toda a empreitada. "Tudo começou por ela, quando me deu a vontade de fazer alguma coisa durante a quarentena", explica. Tendo em cena o casal real formado pelos atores Caio Blat e Luisa Arraes, mas em uma história ficcional, o episódio é descrito por Furtado como uma "comédia romântica de um casal quarentenado (Manoel e Teresa) descobrindo os prazeres do cinema - e também querendo resolver todos os problemas da humanidade, a partir de seu pequeno universo". 

Em entrevista coletiva feita no ambiente virtual no início de agosto, Furtado contou que, ao receberem o convite, Blat e Luiza se entusiasmaram de pronto. "Eles estavam na mesma pilha (dele, Furtado). E eu só propus falar da pandemia unindo duas pessoas, esse foi o ponto de partida. Um casal que se conhece no início da pandemia, e que acaba sendo obrigado a passar a quarentena junto. Ou seja, a pandemia unindo duas pessoas, e aí, também no bojo, a ideia de que a ciência e a arte podem salvar o mundo - elas juntas, as duas trabalhando juntas", especifica ele, que assinou o roteiro junto aos dois atores.

Luísa diz que a iniciativa acabou linkando algo que, inconscientemente, os três estavam passando "neste momento tão inédito, no qual as pessoas estavam com tanto medo". "Havia, na gente, a vontade de falar sobre isso, de forma que, todo mundo assim, tão isolado, se conectasse nesse assunto da incerteza". Caio lembra que a pandemia interrompeu um ano para o qual os dois estavam cheios de projetos. "Eu e Luisa estávamos com uma agenda repleta, a gente ia começar a filmar 'Grande Sertão: Veredas', com o Guel Arraes (pai de Luísa), ainda tinha apresentações da peça da Bia Lessa (também o texto de Guimarães Rosa), marcadas... Então, tinha um monte de trabalho e, em um único fim de semana, tudo foi cancelado! Nosso setor ficou praticamente paralisado, pois teatro e cinema são praticamente feitos da aglomeração  humana. Aí veio a grande questão: como enfrentar essa situação e ainda assim continuar criativo, produzindo? E acrescente-se a isso que, tendo pessoas trancadas em casa, o que mais o ser humano precisa é de ter alguma oportunidade para ter um alívio, respiro, sonho, esperança, distração, informação. Então, por isso a arte se torna tão importante, seja uma música, uma série a que você pode assistir...".

Luísa acrescenta que que outra coisa que "colou tão rápido entre a gente e o Jorge" - "e aí é impossível não lembrar de 'Saneamento Básico - O Filme' (dirigido pelo gaúcho)" -  é a paixão por novas experiências. "A paixão pelo pelo independente, pelo cinema feito de todas as maneiras, até mesmo pelo amador". Caio complementa: "Na pandemia, todas as experiências iniciais vieram junto a quebra de paradigmas, de padrões estéticos. Você via as pessoas fazendo lives da cozinha delas de pijamas, com a câmera meio tosca. Agora, cara, é o que tiver". "O Brasil nunca mais foi o mesmo", completa Luísa. Jorge Furtado endossa: "Nunca gostei da expressão 'zona de conforto', dizia 'que coisa mais chata'. Detestava, mas a verdade é que agora todo mundo saiu de sua zona de conforto. A gente fazia de um jeito e de repente não era mais assim. Teve que se reinventar - e está tendo, todo mundo, a todo dia".

Uma inquietação que adentrou a cabeça de Luísa foi o fato de ela ter sido sempre uma atriz a prezar por sua privacidade. "Aí, pensava: 'Caramba, mas a casa? Eu não mostro nada da minha vida¹' Estava um pouco preocupada, e aí, pensei: 'Não, mas tudo bem, vamos enquadrar assim (de forma a não mostrar tudo)'. Mas aí, depois de um tempo, o Caio falou: 'Tá achando ainda, Luíza, que você está com privacidade na sua casa? (risos). A casa virou o trabalho", diverte-se ela. "É outro conceito de privacidade, outra forma de encontro", adiciona Blat. "Então, a gente ficou aterrorizado com a pandemia, mas extremamente excitado com as mudanças". "Como o Jorge falou, foi justamente sair da zona de conforto".

Em tempo: Luísa lembra que os dois atores não moram no mesmo domicílio. Cada um tem seu apartamento, mas a empreitada acabou aproximando-os ainda mais. Com a palavra, Caio Blat. "A gente também discutiu, 'pô vamos fazer assim', 'não vamos fazer assado'. Mas, ao fim, nada disso existiria sem essa nossa parceria linda. E não me imagino nesse episódio se não fosse com a Luísa, é uma história de amor junto com trabalho. Considero uma sorte que algumas pessoas tenham a oportunidade de estarem com seu amor ao lado nessa situação de quarentena, para enfrentar isso tudo". declara-se ele, lembrando que o casal começou a quarentena confeccionando máscaras para distribuir aos mais necessitados. 

Com o passar das semanas, Blat diz que o aspirador virou a fixação da quarentena. E ele se descobriu ainda mais um cozinheiro de mão cheia. "A gente não se planejou para trabalhar, então, dava intervalo, eu corria para a cozinha e ia cortar legumes. A série foi invadindo a intimidade. Ao fim, a gente acabava dava bom dia à equipe da cama", ri.  "Antes mesmo de dar bom dia um ao outro", gargalha Luísa, que brincava de chamar os assistentes de "Bial", referindo-se a Pedro Bial já ter sido um dia apresentador do "BBB", ou seja, comparando a experiência de "Amor e Sorte" a um reality show.

A diretora Patrícia Pedrosa também falou sobre este episódio em particular. "Então, foi incrivelmente fácil gravar com os dois, pois se conhecem muito, são atores experientes, e acho que isso era fundamental para que o projeto desse certo, atores que entendessem o fazer. E eles são assim: autores, atores, diretores, são tudo. Desde o primeiro teste, e a gente acabou ele super rápido, ali eu já sabia que ia dar certo, e não foi diferente depois, quando começamos a filmar. Os dois foram incansáveis. Eu ia dormir, e uma, duas da manhã, chegavam vídeos que eles tinham feito, e já editados, fiquei emocionada  de ver a dedicação e o empenho, foi muito bonito, e também um exemplo: Tomara q eu consiga ser assim sempre. A gente sabia que ia dar certo, pelo jeito que estavam empenhados. Agradeço a eles pela parceria, e ao Jorge Furtado pelo convite, foi pra mim, um grande presente dessa quarentena".

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