Antes mesmo de o primeiro espectador entrar na sala de cinema, “Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro” já estará fazendo história ao estrear oficialmente nas telonas no dia 19 de janeiro. É a primeira animação em longa-metragem produzida em Minas Gerais, lançada exatamente 70 anos após o pioneiro “Sinfonia Amazônica”.
“É uma honra, uma felicidade imensa. Meu sentimento hoje é de gratidão pela equipe, por tudo que a gente construiu durante esses anos”, comemora Artur Costa, roteirista e idealizador do personagem, um chef de cozinha brasileiro que atravessa o mundo em busca de iguarias raras para incrementar as suas receitas especiais.
Costa confessa que só se deu conta da façanha há poucos meses, durante a solicitação do Certificado de Produto Brasileiro (CPB). A primeira reação foi “O quê? Como assim?”. O fato se torna mais surpreendente por ele vir de curso “muito novo (o de Belas Artes da UFMG), dentro de uma área muita nova” e que ainda “está engatinhando como indústria no Brasil”.
A ideia para o projeto, explica o roteirista, é bem antiga, nascida há dez anos quando anotou os primeiros insights dessa “maluquice” num caderninho. “Nas aulas, eu tinha um professor (Antonio Fialho) que falava muito do conceito de contraste, da importância, na animação, em ter duas coisas muito conflitantes”, registra.
“Esse conceito sempre ficou na minha cabeça e parti da premissa de um cozinheiro aventureiro, já que a cozinha é sempre um lugar certinho e não se mistura com a ideia de aventura. Como sempre fui fascinado com histórias do estilo RPG, busquei levar esse elemento para um ambiente que está fora da lógica”, assinala Costa.
O próximo passo foi desenvolver as características do personagem, “um cozinheiro que, para fazer um prato, ao invés de simplesmente ir para a cozinha, tem que correr atrás de um ingrediente muito difícil de ser encontrado e que nasce há cada dez anos”. Após o primeiro tratamento de roteiro, Guilherme Fiúza foi convidado para dirigir o longa.
Realizador do infantil “O Menino no Espelho”, baseado no romance homônimo de Fernando Sabino, Fiúza já tinha experiência com animação, com a realização de dois curtas-metragens e um piloto de série, antes de aceitar o convite para dirigir o longa, mas foi o seu trânsito no cinema de live action infantil que pesou na balança.
“A gente está muito acostumado a soluções mais pés no chão e feijão com arroz, típicas da animação, mas queríamos alguém que pudesse trazer uma investigação diferente, uma visão mais fresca”, explica Costa. A entrada de Fiúza levou a várias mudanças de roteiro e à sugestão de Danton Mello para fazer a voz de Chef Jack.
“Quando eu cheguei, a gente tinha um roteiro bem extenso, com 120 páginas. Eu li e falei: ‘Olha, temos uma bela história, mas ela está muito longa e teremos que chegar a 80 páginas, que é o que a verba permite e o que o mercado absorve enquanto sala de exibição’. Aí fomos fazendo um corte mais cirúrgico, lapidando mais o roteiro”, afirma o diretor.
Para ele, “Chef Jack” é uma mistura de Indiana Jones com “MasterChef” e “No Limite”. “O Artur criou um mundo próprio, em que os países têm nomes ligados à comida. Você tem, por exemplo, o Gulodistão, que é oriental, inspirado na Índia, e a Macarronesia. Esse é o grande barato da animação, podendo criar um universo completamente paralelo”, conta.
Ele salienta que o processo de realização de uma animação é bastante diferente. Num live action, observa, “você parte do roteiro, faz a captação, levanta a grana e chama a equipe. É tudo mais rápido. Na animação, você parte do zero para tudo. Até chegar à parte de montagem mesmo se leva dois, três anos”, diferencia.
Desafio
Para fazer a voz de Chef Jack, eles buscaram um ator conhecido de novelas e filmes e também com bastante bagagem em dublagem. “Danton Mello tem uma voz do c..., tendo feito recentemente o ‘Pets’. Ele é muito versátil, indo de uma ponta a outra nos personagens. Quando sugeri, todo mundo amou”, lembra.
Havia o temor de que Danton Mello não aceitasse o convite, já que o filme tinha poucos recursos (foi realizado com pouco mais de R$ 2 milhões, valor baixo para um longa de animação). “Colocamos um desafio para ele, com a possibilidade de trabalhar em algo que nunca fez. Ele não dublaria, mas sim criaria a voz do personagem”, comenta Fiúza.
Um dos sócios da produtora Immagini Animation Studios, sediada em Belo Horizonte, Giordano Becheleni afirma que, para o projeto virar realidade, foi “preciso ter um roteiro e sinopses muito bem estruturados, uma ‘bíblia’, (documento) com o perfil dos personagens, e, finalmente, uma promo de até um minuto que apresentasse a qualidade da animação que a produtora é capaz de fazer”.
Com esse cuidado na preparação, eles conseguiram chamar a atenção da Cineart, principal cadeia de exibição de Minas Gerais, e de uma grande distribuidora internacional (a Sony), o que permite que o filme possa ganhar visibilidade na concorrida programação de cinemas em janeiro. “Produzir animação não é fácil, mas não é impossível”, avalia.
“Chef Jack” deve estrear em 350 a 500 salas do país, de acordo com o sócio da Immagini. O trailer está em exibição em 50% dos espaços que apresentam “Avatar: O Caminho da Água” e em 80% de “Gato de Botas 2”, abrindo o apetite do público, que já poderá contar com uma continuação em breve. “Estamos fazendo o roteiro, que está incrível, e nos preparando para o início da produção”, garante.