A primeira etapa foi concluída com sucesso, e a segunda, que se encerra amanhã, vai pelo mesmo caminho. A depender do envolvimento dos belo-horizontinos, ao fim desta quinta-feira a meta de R$ 391 mil visada pela vaquinha virtual Renasce Museu, empreendida pelo Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) da UFMG, junto à plataforma Benfeitoria, será devidamente batida. Na verdade, do montante citado, 300 mil já haviam sido amealhados na primeira fase, e, até o fechamento desta edição, ontem, 96% da montante almejado pela segunda, idem.

O valor arrecadado, vale dizer, será usado na criação de uma plataforma virtual para reunir informações sobre acervos do MHNJB atingidos por um incêndio em junho passado. Na primeira etapa, o arrecadado viabilizará a contratação de equipe especializada e a aquisição de equipamentos e do software para documentação e gestão de acervos. Na segunda, a aquisição de módulos do software para o detalhamento no registro dos acervos arqueológicos e ampliação do treinamento da equipe responsável.

Um detalhe que fez toda a diferença nesta caminhada foi o engajamento da classe artística mineira na campanha, como bem salienta o professor e pesquisador Andrei Isnardis, do departamento de Antropologia da UFMG. “Essa adesão foi muito valiosa para a gente”, frisa. Mas não só. “Essa força dá uma energia a mais, estimula, e é algo muito precioso nesse cenário atual, de tanta pressão sobre a ciência e as artes. Mostra que as pessoas (ligadas às duas áreas) estão dispostas a se apoiar mutuamente”.

Ele também ressalta que a adesão não se deu simplesmente pela ideia geral de ser um museu, “mas, sim, pelo fato de essas pessoas terem um vínculo afetivo particular com o MHNJB”. Isnardis revela que os artistas chegaram à campanha por vários caminhos. “Em boa parte, um foi falando para o outro, e vieram voluntariamente. Uma coisa muito legal foi que os primeiros vídeos eram de figuras ligadas à zona leste (a mesma do equipamento), como o Igor Cavalera, Toninho Horta ou o Paulo Jr., baixista do Sepultura”.

Por outro lado, complementa o pesquisador, quando eles próprios tomaram a iniciativa de convidar outros artistas, se deram conta de que esses não só já estavam inteirados da campanha, como interessados em agregarem seus nomes. “Foi assim com o Tavinho Moura, Maurício Tizumba, Sergio Pererê... Ou seja, as energias foram convergindo. Muito bonito ver essa rede se formando”.

É importante pontuar que a ideia da vaquinha coletiva começou a partir de um edital lançado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que previa o aporte de R$ 2 a cada R$ 1 arrecadado junto à sociedade civil – triplicando, assim, o valor arrecadado. O MHNJB se inscreveu e, ao ser aprovado, iniciou a campanha na plataforma Benfeitoria. A primeira etapa, cumprida com duas semanas de antecedência em relação ao prazo estipulado, foi apoiada por 836 benfeitores, que garantiram os R$ 100 mil que, com o mecanismo citado, se transformaram em R$ 300 mil. A segunda, em curso, não tem mais o apoio do BNDES.

A tragédia

O incêndio de 2020 afetou principalmente a Reserva Técnica 1, onde ficavam guardadas coleções de zoologia, arqueologia, paleontologia, materiais etnográficos e cerâmicas do Vale do Jequitinhonha. O corpo técnico segue se debruçando sobre o resgate de materiais residuais na área afetada, visando um mapeamento mais preciso, já que, no caso das áreas mais atingidas, naturalmente ocorre uma mistura de objetos queimados.

“Esse material passou por processo de recondicionamento e, agora, está em áreas que funcionam como reservas técnicas temporárias. O desafio, a longo prazo, é seguir limpando, separar, analisar tudo em detalhes... Um trabalho de longo prazo”, afirma Isnardis.

“Claro, vamos precisar de novos recursos, projetos, e, infelizmente, as perspectivas para este ano são as piores: as agências de financiamento, por exemplo, escassearam muito. Vamos ter que pensar outros caminhos. A gente ainda não sabe bem quais são eles, mas, agora, com o financiamento coletivo, a expectativa é caminhar para tornar o museu cada vez mais público, partindo do pressuposto que compartilhar é o elemento mais forte para proteger esse acervo”, finaliza.

Os interessados em ajudar devem acessar benfeitoria.com/renascemuseu.