Os ponteiros do relógio adentraram a segunda-feira, 12 de dezembro, com muita gente acordada, de olhos grudados na tela, para assistir ao último capítulo de "White Lotus 2", de Mike White, na HBO Max. Vale dizer que, nas redes sociais, desde os primeiros capítulos as teorias corriam soltas. Alguns trataram de voltar cenas e até printar detalhes para tentar elucidar algumas questões: o cowboy da foto no iate de Quentin (Tom Hollander) era mesmo Greg, o marido de Tanya McQuoid (a estupenda Jennifer Coolidge), na juventude? E a loira conseguiria se safar do plano claramente em curso para eliminá-la, sacrificando-se, assim, pela "beleza", como insistia Quentin? Portia (Haley Lu Richardson) conseguiria chegar em tempo para ajudá-la, posto que também estava em maus lençóis? E afinal, o que houve de fato entre Cameron (Theo James) e Harper (Aubrey Plaza)? De quem era o corpo com o qual Daphne (Meghann Fahy) esbarra no mar, no primeiro capítulo? Eram tantas, mas tantas perguntas, que no momento em que à cena final sucederam-se os créditos, a televisão pode até ter sido desligada, mas  movimentação nas redes varou a madrugada, com muitos termos ligados à produção chegando aos trending topics do Twitter. 

ALERTA DE SPOILER!

 

A partir deste ponto, quem ainda não assistiu à série e pretende ver, ou para quem ainda não assistiu ao último capítulo e não quer ter a surpresa estragada, é absolutamente desaconselhável seguir em frente... Pare por aqui.

Sim, o corpo era o da pessoa que angariou um super contingente de fãs - embora, convenhamos, Tanya não tenha sido a melhor pessoa do mundo na primeira temporada, ao ter feito os projetos da funcionária do spa virarem pó de um momento para o outro. Mas além do carisma da atriz (que, aliás, deu um show de interpretação nos momentos finais), não há como não se identificar com o lado carente da personagem. Na verdade, numa olhada mais superficial para esta segunda temporada, o micro (os hóspedes e funcionários do hotel paradisíaco na Sicília) que, como diria Tolstói, espelha o macro parece estar dividido entre uma parcela de pessoas mais carentes e outra com  os mais pragmáticos. Os primeiros embarcam fácil na lábia dos astutos, e Tanya notadamente se insere nessa categoria, assim como Valentina (Sabrina Impacciatore, que muitos compararam a Cristina Kirshner), outra presa fácil, e Albie (Adam DiMarco), cuja ingenuidade chega a dar dó, ainda que perdoável pela juventude e pela criação.

Há, ainda, aqueles que conseguem usar uma máscara para incorporar o papel no qual lhe é mais conveniente entrar no teatro social, caso de Daphne (Meghann Fahy) - aliás, outra ótima atriz, que conseguiu passar todo o necessário com o olhar no momento em que a verdade lhe é colocada por Ethan (o bonitão Will Sharpe), para, em um átimo, se recompor e voltar ao palco da vida, não sem deixar de dar curso à sua revanche. Perfeita. Outra que se expressou maravilhosamente com o olhar foi a já citada Valentina.

A personagem de Portia, acredite, foi parar nos assuntos comentados até no meio da moda, mas justamente por conta de suas escolhas de vestuário não serem nada harmônicas. No capítulo final, o pior momento da personagem se deu quando é obrigada a entrar no carro com Dillon (Lukas Gage), o falso sobrinho de Quentin, sem seu aparelho celular, à noite, num país no qual não fala a língua e sem rumo conhecido. Poderia ser claramente o seu fim, não fosse o fato de ter tocado em algum ponto do coração de Dillon. Ao fim, ficou a estranheza por ela ter de fato se empenhado em sair tão rapidamente daquele lugar, sem se importar tanto assim com Tanya, sua empregadora. A cereja do bolo foi furtar uns óculos no aeroporto, após ter ficado entre confusa e divertida na cena em que, juntno a Dillon,  sai do restaurante às carreiras, sem pagar pelos arancini consumidos.

O desfecho do trio masculino DiGrasso - além de Albie, Bert (F. Murray Abraham) e Dominic (Michael Imperioli) -  e também foi perfeito para corrobar a tese do "pau que nasce torto, nunca se endireita", no caso do pai e do avô, ainda que aponte que Albie irá pelo mesmo caminho. Quanto às meninas Mia (Beatrice Grannò) e Lucia (Simona Tabasco), vale a discussão se a representação local (italiana) não poderia ter sido mais diversificada - afinal, por mais charmosas e carismáticas que sejam, vamos combinar, os métodos que as duas usaram no curso da trama não foram nem um pouco louváveis. A conferir o que as críticas publicadas em sites e jornais italianos acharam da representação. 

Ao fim, fica a decepção em saber que Tanya não estará na terceira temporada, juntamente à pergunta de quem vai continuar: Greg? Portia? Bem, a torcida certamente será forte por Harper, já que a atriz Aubrey Plaza só encontrou rival na categoria fãs nas redes sociais em Jennifer Coolidge. E, claro, fica a pergunta de qual será o cenário da próxima temporada... Na internet, muita gente sugeriu o Brasil, mas o casal Daphne e Cameron lançaram no ar uma sugestão : as Maldivas, atual meca da classe mais abastada brasileira. Que venha logo, pois, a terceira.

Em tempo: não poderíamos deixar de fora os elogios à trilha sonora, à abertura, à fotografia e a insights bem bacanas, como o de mostrar o vulcão em erupção, a analogia com "Madame Butterfly" ou a cabeça de cerâmica que se estilhaça no último capítulo. E, sim: come è bella, la Sicilia! Anzi, bellissima.