Mais uma voz para amplificar o coro de mulheres que falam abertamente e sem medo sobre o envelhecimento, a modelo e apresentadora Adriane Galisteu, 50, tem encarado perguntas sobre a pressão estética, as cobranças irreais das redes sociais e o sexo depois da menopausa em um casamento longo.
“Passamos (ela e o marido, Alexandre Iodice) por momentos difíceis nos últimos três anos. Mas nunca deixamos de conversar sobre sexo. Acho que sexo a gente fala pouco e faz mais. Mas teve um momento que eu precisei de ajuda por uma questão hormonal, e ele também, que passa pela andropausa. Tivemos nossos momentos de conversa, de tentar recuperar a vida ativa sexual e de namorado, o beijo de língua”, expôs ela, em uma entrevista à edição brasileira da revista “Marie Claire”, voltada para o público feminino.
Na resposta, o destaque que Adriane Galisteu atribuiu, ainda que inconscientemente, ao beijo de língua tem sua razão de ser. O tópico, aliás, é recorrente na psicoterapia quando o assunto são os dilemas dos relacionamentos longos. “Muitos casais acabam deixando de lado esse hábito com o passar do tempo”, reconhece a psicóloga e sexóloga Renata Lanza.
“Eles acabam se dando conta de que se beijavam no início do relacionamento, mas com o tempo foram perdendo esse costume. Muitos relatam que se beijam apenas quando fazem sexo, o que acaba fazendo com que uma coisa seja associada à outra”, assegura, informando que essa prática faz até com que o beijo seja evitado, pelo receio de ter a “obrigação” de fazer sexo após essa troca de afeto – “o que pode levar a um afastamento do casal, à perda da intimidade e à desconexão”.
E, a exemplo do relato da apresentadora, Renata diz ser importante que o casal procure ajuda especializada caso perceba dificuldades nesse sentido. “Para, assim, conseguir entender a raiz do problema e solucioná-lo da melhor forma”, avalia.
Benefícios diversos
A psicóloga e sexóloga Renata Lanza reforça que o beijo não deve acontecer apenas no momento do sexo. “Retomar esse hábito no dia a dia pode ajudar a recuperar a intimidade e a conexão entre o casal. Esse gesto não pode ser negligenciado. Ele tem poder para reconectar o casal, fortalecendo a sua cumplicidade e vínculo”, defende, enumerando uma série de benefícios que os tais “beijos de novela” podem proporcionar.
“O beijo é uma das formas mais íntimas e prazerosas de demonstrar afeto, carinho, tesão e amor por alguém. Além de ser uma fonte de prazer, ele também gera benefícios para nossa saúde física e emocional”, sinaliza, lembrando que um beijo libera hormônios como a ocitocina, a dopamina e a serotonina, que provocam sensações de bem-estar, felicidade e relaxamento, além de estimular principalmente três sentidos: o tato, o olfato e o paladar.
“Ao beijarmos, movimentamos músculos, queimamos calorias, e os vasos sanguíneos se dilatam, melhorando a circulação sanguínea. A aceleração da frequência cardíaca também acontece, e contribui para o aumento do fluxo sanguíneo”, acrescenta, ponderando que, mais do que “razões médicas”, o beijo de língua carrega motivações culturais. “Acho que nós latinos somos mais ‘fogosos’, mais abertos a manifestações de afeto, falamos mais de sentimentos e talvez por isso gostamos mais de beijar do que em outras culturas”, observa.
A origem do beijo nos lábios
Renata Lanza reconhece que a origem do beijo ainda é desconhecida e polêmica. “Sheril Kirshenbaum, autora do livro ‘A Ciência do Beijo’, diz: ‘O registro mais antigo do beijo vem da Índia. São textos em sânscrito de 3.500 anos atrás. No entanto, considerando tantos comportamentos similares no reino animal, especialmente entre primatas, pode-se supor que os humanos, de alguma maneira, sempre se beijaram’”, assinala.
De fato, o tema divide opiniões. Em um artigo publicado originalmente no site de notícias acadêmicas “The Conversation”, em maio do ano passado, os autores de um estudo relatam ter analisado “quantidades significativas de evidências negligenciadas que desafiam as crenças atuais de que o primeiro registro de beijo romântico-sexual aconteceu na Índia, por volta de 1500 a.C.”.
“Em vez disso, o beijo na boca foi documentado na antiga Mesopotâmia – atual Iraque e Síria – desde pelo menos 2500 a.C.”, descrevem os pesquisadores Sophie Lund Rasmussen e Troels Pank Arbøll, acrescentando que antropólogos evolucionistas sugerem que o beijo na boca funcionaria como uma forma de avaliar a adequação de um parceiro em potencial – “por meio de sinais químicos transmitidos na saliva ou na respiração”.
“Outros propósitos sugeridos para o beijo incluem provocar sentimentos de apego e facilitar a excitação sexual”, complementam, informando ainda que o beijo na boca também é observado entre nossos parentes vivos mais próximos, os chimpanzés e bonobos. “Isso sugere que o comportamento pode ser muito mais antigo do que as primeiras evidências atuais em humanos”, registram, no artigo “Earliest evidence of kissing pushed back 1,000 years”, republicado posteriormente pela empresa de mídia estatal britânica “BBC”.
Diante do conjunto de achados, os autores propõem que a tese de que o beijo foi importado para o Ocidente da Índia, defendida a partir de um manuscrito datado de cerca de 1.500 a.C., não se sustentaria.
“As evidências mais antigas da Mesopotâmia indicam que podemos descartar esse cenário”, avaliam, para em seguida concluir que, “considerando a ampla distribuição geográfica do beijo romântico-sexual na Antiguidade, acreditamos que o beijo teve múltiplas origens”.