O número de casos de hepatite C dobrou nos últimos dez anos no Brasil, segundo o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2019 divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. O aumento é observado notavelmente depois de 2015: eram menos de seis em cada 100 mil habitantes em 2008 e chegaram a mais de 12 em 2018. 

A variação C da doença ataca o fígado e pode levar a cirrose e câncer. No país, 76% dos quase 71 mil óbitos em decorrência das hepatites virais entre 2000 e 2017 estão associados ao vírus tipo C. 

Desde 1997, foram realizados mais de 25 mil transplantes de fígado no Brasil, a maior parte deles devido a complicações causadas por hepatite B e, principalmente, C. Em 2019, foram 512 até março, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (Abto). 

Para o médico infectologista Antônio Toledo Jr., o aumento de notificações a partir de 2015 pode estar relacionado a dois fatores: ao desenvolvimento de medicamentos mais eficazes naquele ano e à mudança de critérios diagnósticos (dois marcadores precisavam ser identificados nos exames até 2015, mas agora basta um deles). 

O médico acredita que o número de diagnósticos pela variação C vai se estabilizar no futuro, e reforça que o pico identificado entre 2015 e 2016 não quer dizer necessariamente aumento de transmissão nesse período.

“O que se vê nesses dados é um retrato do passado, porque a transmissão pode ter sido 15, 20 anos antes. Hoje, é raríssimo haver transmissão de hepatite C por transfusão de sangue contaminado, mas era comum antes de 1993, quando os bancos de sangue não faziam detecção”, diz.

Isso também explica, segundo ele, por que a concentração de diagnósticos está na faixa acima dos 60 anos. 

Doença silenciosa

O engenheiro mecânico e microempresário Willian Melo, 54, descobriu que tinha hepatite C em 2015, aos 51, depois de se consultar com uma dermatologista devido a irritações na pele.

“Eu sentia coceira no braço e cintura, por exemplo. Fiz exames de pele e não foi detectado nada de anormal. Aí, a dermatologista indicou vários exames de sangue e um detectou a hepatite”, lembra. 

Um tratamento de poucos meses o curou do vírus, mas o fígado já havia sido atingido e ele desenvolveu cirrose.

Hoje, continua fazendo exames rotineiros para acompanhar o problema e não consome álcool. Como em 55,1% dos diagnósticos de hepatite C, Melo não descobriu como foi infectado.

Considerando as variações das hepatites virais A, B, C e D, o número de diagnósticos no Brasil caiu 7% entre 2008 e 2018. Em 2008, foram 45.410 casos.

Dez anos depois, o número caiu para 42.383. A maior parte dos diagnósticos é de hepatite B (36,8%), seguida pela hepatite C (36,1%), hepatite A (26,4%) e hepatite D (0,7%).

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Meta

Em 2017, o Ministério da Saúde oficializou um plano com Estados e municípios para erradicar a hepatite C até 2030.

Não há vacina contra a variação da doença, e o tratamento é possível na rede pública.