Uma doença que pode surgir em qualquer época da vida e não tem cura. Ainda assim, é possível conviver com ela desde que o paciente siga o tratamento de forma adequada. Assim é o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), que pode se manifestar atingindo diversos órgãos. Existem dois tipos da doença, e o primeiro, o eritematoso, atinge apenas a pele, provocando manchas avermelhadas em áreas mais expostas à luz solar, como braços, orelhas, rosto e colo. Já o segundo, o sistêmico, pode prejudicar coração, rins e pulmões.
Ontem, a musa teen Selena Gomez, 23, declarou ser portadora de lúpus. Em entrevista à revista norte-americana “Billboard”, a cantora e atriz falou sobre a doença. E disse que ficou mal com o diagnóstico: “Poderia ter tido um AVC”.
Em 2013, ela cancelou uma turnê na Ásia e na Austrália. Na ocasião, sites de celebridades especularam que ela tinha desistido de fazer os shows porque estava em uma clínica de reabilitação cuidando de uma dependência química. Na verdade, Selena estava passando por sessões de quimioterapia.
“Eu queria tanto dizer para eles: ‘Vocês não têm ideia de que o que estou fazendo é quimioterapia... Seus imbecis’”, declarou. “Resolvi ficar isolada até que eu me sentisse confiante e tranquila comigo mesma novamente”.
Essa necessidade de isolamento não é uma exclusividade dos famosos. Os principais sintomas do lúpus são mal-estar, febre, dor e inchaço nas articulações, queda de cabelo, feridas na boca, manchas na pele, entre outras manifestações que acabam criando barreiras sociais nos portadores. “A gama de sintomas é vasta e pode acometer qualquer órgão ou tecido do organismo”, explica o médico reumatologista Andrei Vicari.
Incidência. Rara, a doença pode acometer qualquer pessoa, porém sua incidência é mais comum em mulheres jovens, entre 20 e 45 anos. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a estimativa é que existam cerca de 65 mil pessoas com lúpus no país, sendo a maioria do sexo feminino.
Segundo Vicari, o lúpus pode surgir em qualquer fase da vida, sem motivos aparentes. Questões genéticas podem ou não influenciar o aparecimento da enfermidade, mas, em geral, a causa ainda é desconhecida. “É uma doença autoimune. Temos um sistema de defesa imunológico e, às vezes, ele fica desregulado. Ele passa, então, a atacar algumas células do organismo, e isso é o que chamamos de “doença autoimune”. O lúpus não é causado por infecção ou bactéria, é o próprio organismo que o desenvolve”, afirma.
O reumatologista diz ainda que o diagnóstico é feito após uma análise criteriosa das manifestações que o paciente apresenta e por meio de exame denominado FAN (fator ou anticorpo antinuclear), obtido no exame de sangue. “Quase 100% dos pacientes com lúpus têm o FAN positivo. Mas muita gente que tem o FAN positivo não necessariamente vai desenvolver a doença. Esse fator ajuda para o diagnóstico, mas não é o único avaliado para se descobrir o lúpus”.
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Tratamento modula sistema imunológico
O lúpus não tem cura, mas sim controle. Segundo o médico Andrei Vicari, os remédios com corticoide, cloroquina e os imunosupressores são os mais indicados, mas a recomendação varia de pessoa para pessoa.
“O tratamento é à base de medicamentos que vão modular o sistema imunológico. Vai depender da manifestação de cada paciente”, salienta ele.
Já os sintomas mais leves podem ser tratados com analgésicos e anti-inflamatórios. Segundo o Ministério da Saúde, dois medicamentos indicados para tratar o lúpus – a azatioprina e a ciclosporina (há diversas dosagens) – são ofertados gratuitamente na rede pública.
O reumatologista ainda explica que outras duas formas de lúpus também são comuns, porém mais leves e têm cura.
“O lúpus discoide é quando a pessoa tem só uma lesão na pele, e o tratamento é simples, podendo ser com pomada ou remédio. Já o lúpus induzido por drogas é aquele causado após o uso de algum medicamento que dê efeito colateral semelhante aos sintomas do lúpus”, finaliza.