Ao contrário de um certo e comum entendimento do sexo como algo relacionado necessária e estritamente ao estímulo genital, a verdade é que o corpo humano é erógeno por inteiro, e o prazer sexual, atravessado por diversos e difusos fatores. Não por acaso, brasileiros e brasileiras temem, na cama, conviver com o silêncio de seus parceiros. É que, entre os múltiplos impulsos sensoriais para o deleite a dois (ou mais), as expressões sonoras podem fazer a diferença. Investigando o que homens e mulheres mais gostam de ouvir na cama, uma pesquisa feita neste mês pelo site Vivalocal, especializado em anúncios, identificou que as preferências são parecidas para ambos os gêneros consultados.
Ouvindo um total de 700 pessoas, o levantamento virtual constatou que 34% das mulheres e 32% dos homens têm predileção em ouvir gemidos durante o sexo. O som da respiração vem em segundo lugar, com 20% e 18% da preferência, respectivamente. Quando questionados sobre os sons que consideram mais desestimulantes, 20% delas e 18% deles disseram temer o silêncio. Para chegar ao orgasmo, 43% das entrevistadas e 46% dos entrevistados revelaram gostar especialmente da frase “Não para!”.
À luz desses dados e de outras pesquisas sobre o tema, a psicóloga e sexóloga Laís Ribeiro observa que, de maneira geral, todas as respostas indicam um mesmo desejo: “A confirmação de que o desempenho sexual tem alcançado êxito e que a transa está sendo prazerosa também para o outro”, destaca a especialista.
Por isso, os gemidos, a respiração ofegante e expressões que confirmam a boa performance são, normalmente, bem-vindos. A ausência de sons e ruídos, por outro lado, transmite a ideia oposta: “É como se o parceiro não reagisse aos estímulos, o que gera sensação de frustração”, pontua Laís. Não por acaso, a maioria dos homens (27%) reconheceu que, depois do sexo, teme sobretudo ouvir a pergunta: “Já terminou?”.
Voltando ao tópico sobre o que mais se deseja ouvir na cama, o dirty talk (conversas eróticas, em tradução livre) aparece em terceiro lugar. A prática é considerada excitante por 18% de mulheres e 16% dos homens. Os dados não surpreendem Laís. A sexóloga explica que outros estudos já indicavam que elas, mais do que eles, têm predileção por esse tipo de interação durante o sexo – algo que está muito relacionado a fantasias, observa. Ela acrescenta que há, ainda, uma carência de estudos sobre o tema que fujam de um recorte cis-heteronormativo e, portanto, outras diversas possibilidades acabam sub-representadas.
Se consumida no afã do aprendizado, pornografia deseduca para o sexo
Quanto ao que soa desagradável durante o ato, além do silêncio, gritos e palavrões aparecem em segundo e terceiro lugar no ranking da Vivalocal, respectivamente. Para a psicóloga e sexóloga Laís Ribeiro, essas principais queixas parecem indicar como o consumo de pornografia como meio de aprendizado pode interferir nas dinâmicas sexuais reais. “Se já venho com uma receita e acredito que aquilo vai funcionar, o sexo deixa de ser o encontro, deixa de ser uma pesquisa a dois”, comenta.
Dessa maneira, se o gemido em decibéis altíssimos está relacionado ao que a pornografia hegemônica vende como excitante, uma reprodução dessa prática em uma circunstância em que não há contexto para tanto pode ser desestimulante. No caso do silêncio, Laís lembra que, enquanto mulheres são incentivadas a gemer inclusive no contexto da indústria do entretenimento adulto, homens são induzidos a ficarem calados.
“O homem já vem dessa construção social em que é desestimulado a expressar seus sentimento, então, não só no sexo, já tende a ficar mais calado. Quando consome manterial pornográfico para se educar sexualmente, o que não é tão incomum, o que ele vê na maioria das vezes é uma simulação de sexo que consolida esse lugar de poder, de virilidade e de performance. Logo, a tendência é que esse homem fique cada vez mais performático e silencioso, o que pode frustrar as mulheres que se relacionarem com ele”, avalia, lembrando ser esta uma escuta comum em sua experiência clínica e o que revelam pesquisas.
Laís sublinha que uma conversa franca e aberta – e, para muitos, de preferência fora da cama – pode funcionar para a descoberta sobre o que pode ou não agradar ao outro.