Quem me leva

70% das mulheres com câncer são abandonadas pelos parceiros

Podcast reúne histórias de pacientes largadas em momento de extrema fragilidade e mostra como o impacto emocional pode comprometer a recuperação

Por Maria Irenilda, Queila Ariadne
Publicado em 23 de agosto de 2023 | 06:00
 
 
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), divulgada em abril de 2023, revela que o abandono impacta 70% das pacientes oncológicas Ilustração/ Acir Galvão

Sete em cada dez mulheres com câncer no Brasil são abandonadas durante o tratamento. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), divulgada em abril de 2023, revela que o abandono impacta 70% das pacientes oncológicas.

“Esse reflexo no meu consultório é muito real e chega  com muito sofrimento. Algumas histórias são muito impactantes. Todas doem, mas algumas são muito doidas, porque a gente percebe que alguns abandonam a mulher ao longo do tratamento porque percebem que não vão dar conta. Também é  comum traição envolvida no abandono”, explica a médica anestesiologista Meira Souza,  especialista em tratamento de dor e construção de saúde.

A médica se lembra de  uma paciente que vivia com um companheiro há 12 anos e, quando ela foi diagnosticada com câncer de mama e contou para ele que teria que fazer uma mastectomia, ele trocou as chaves de casa.

“Quando ela tentou entrar, ele gritava lá de dentro que ela estava louca de achar que ele iria continuar convivendo com uma mulher aleijada”, lembra Meira. Por trás da estatística de abandono, são diversas histórias como essa. Elas estão, reunidas no primeiro episódio da segunda temporada da série de podcasts “Quem me leva”, produzida pela Mais Conteúdo, de O TEMPO. 

Ouça aqui o primeiro episódio:
 

O tema veio à tona durante a produção da  primeira temporada, que mostra as dificuldades de acesso ao transporte gratuito que pacientes em tratamento contra o câncer enfrentam. E você pode ouvir os quatro episódios aqui. Ao longo da produção, foram tantos os relatos, que a apuração transbordou e deu origem à segunda temporada. 

Dor da separação compromete a cura

A psicóloga do Hospital Mário Penna, Gizelle Mesquita, ressalta que, nesse momento, a mulher já convive com muitas perdas estéticas, de produtividade e até sexuais. Ela destaca como uma separação em pleno tratamento pode comprometer o resultado do tratamento e, até mesmo, a cura da doença. “O tratamento oncológico não é só a quimioterapia. Envolve todo seu psicossocial. E a fragilidade emocional pode diminuir a imunidade e, dessa forma, a resposta ao tratamento é pior”, explica a psicóloga.