Estados Unidos

Discurso de Biden é por um futuro para os trabalhadores 'esquecidos' dos EUA

Na véspera do dia em que completará os primeiros e simbólicos 100 dias de mandato, Biden vai ao Congresso defender plano de retomada econômica

Por AFP
Publicado em 28 de abril de 2021 | 21:40
 
 
Biden deve mantar sustentação de seu governo Foto: ALEX WONG / AFP

 

O presidente dos Estados Unidos Joe Biden fala ao Congresso pela primeira vez nesta quarta-feira (28) para defender um plano de gastos maciços para apoiar a classe média americana e os trabalhadores "esquecidos", uma visão que enfrenta profundas divisões no Legislativo.

Na véspera do dia em que completará os primeiros e simbólicos 100 dias de mandato, Biden apresentará seu projeto para as "famílias americanas", que o governo considera um "investimento histórico" na educação e na infância. 

"Agora, depois de apenas 100 dias, posso relatar ao país, os Estados Unidos estão avançando novamente", são as palavras que o presidente vai pronunciar, segundo extrato do discurso divulgado pela Casa Branca. 

O plano, que já despertou a ira dos republicanos, é ambicioso: prevê investimentos de um trilhão de dólares, principalmente em educação, e desoneração de 800 bilhões de impostos para a classe média. 

Esse plano visa a geração de “milhões de empregos” e, de acordo com Biden, 90% das vagas em infraestrutura são voltados para pessoas sem curso superior. 

Para financiá-lo, o democrata vai propor o cancelamento dos cortes de impostos para os mais ricos aprovados no governo Donald Trump e aumentar os impostos sobre a renda do capital de 0,3% dos americanos que acumulam mais riquezas. 

"Sei que alguns de vocês em casa se perguntam se esses empregos são para vocês, se sentem deixados para trás e esquecidos em uma economia em rápida mudança", disse Biden. 

E tudo por uma promessa: nenhum americano que ganhe menos de 400.000 por ano verá seus impostos aumentarem, disse um membro do governo que pediu para não ser identificado.

O discurso também vai marcar o início de um debate acirrado no Congresso, pois apesar de seu plano de alívio de 1,9 trilhão de dólares para uma economia muito abalada pela pandemia ter sido aprovado, o debate sobre seu gigantesco plano de infraestruturas e a reforma da educação gera mais divisões. 

"Como Bernie Sanders" -
O plano vai exigir a aprovação de um Congresso muito dividido, com uma leve maioria democrata, mas que não garante a tramitação dos projetos.  

"O presidente Biden se apresentou na campanha como moderado, mas, até o momento, custa-me encontrar a menor decisão que mostre um senso de moderação", ironizou nesta terça-feira o senador republicano Mitch McConnell. 

Em seu editorial, o jornal "The Wall Street Journal" lamenta que Biden, que "teve sorte" tanto nas vacinas quanto na recuperação econômica, não aproveite a oportunidade "para unir o país". 

Citando um aumento de impostos sem precedentes desde 1968 e um nível de gastos "nunca visto desde a década de 1960", o jornal critica que Biden tenha decidido governar "como Bernie Sanders", o senador e ex-pré-candidato autoproclamado "socialista democrata".

No Congresso, o presidente democrata provavelmente vai ressaltar o progresso "impressionante" do país na luta contra a covid-19, palavras que ele usou na terça-feira para descrever a rápida campanha de vacinação. 

Quase 96 milhões de pessoas - 30% da população - receberam as duas doses da vacina e na terça-feira as autoridades de saúde recomendaram que as pessoas já imunizadas - ou seja, que desenvolveram anticorpos - não precisam usar máscara em locais abertos, exceto em eventos com muitas pessoas. 

Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, indicou que Biden vai destacar sua determinação de que os Estados Unidos "recuperem seu lugar no mundo" e mencionará as relações com a China. 

Os discursos presidenciais no Capitólio são marcados pela pompa e solenidade, uma tradição muito importante na política americana, mas este ano o evento, que começará às 21h (22h de Brasília), acontecerá em um ambiente particular, devido à pandemia. 

- Convidados virtuais -
Em vez das 1.600 pessoas que normalmente acompanham o discurso, a capacidade foi limitada a 200. E os congressistas receberam o pedido para apresentar uma lista de convidados, mas "virtual".

O presidente da Suprema Corte, John Roberts será o único representante do tribunal. Também estarão presentes o secretário de Estado, Antony Blinken, e o comandante do Pentágono, Lloyd Austin, mas os demais integrantes do governo terão que assistir o discurso pela televisão. 

Com a pandemia não será necessário escolher o "sobrevivente designado", uma tradição segundo a qual um membro do gabinete permanecia escondido, para que em caso de ataque ao Congresso o governo tenha continuidade. 

Outra novidade, mas não relacionada com a pandemia será que Biden estará escoltado por duas mulheres, a líder da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, e por Kamala Harris, a primeira mulher a ocupar a vice-presidência do país. 

Espera-se que o clima seja mais descontraído do que no último discurso de um presidente dos EUA ao Congresso, o relatório do Estado da União apresentado pelo republicano Trump em fevereiro de 2020. 

Antes da cerimônia, Trump evitou abertamente apertar a mão de Pelosi e, quando terminou de falar, a líder da bancada democrata rasgou o papel que continha o discurso do presidente.