É natural termos medo do desconhecido, medo de tudo para o qual não podemos nos preparar. Desde pequenos, aprendemos observando o comportamento alheio, e também deste modo aprendemos o que temer e o que encarar.
Um grande médico japonês, conhecido por curar pessoas com câncer na quarta fase, afirma que existe apenas um paciente que ele não pode curar: aquele que teme mortalmente o câncer. Este, assim que descobre a doença, já se vê sem esperanças e se preocupa mais em aceitar a morte do que em buscar a cura.
O medo afeta diretamente o sistema imunológico, nos deixando propensos a contrair qualquer doença com mais facilidade e também dificulta o processo de retorno à saúde.
É obvio que não existe maneira de receber o diagnóstico de tumor maligno sem se abalar, isso se deve também ao fato de que é comercialmente favorável expor e manter o câncer com “fama” de incurável. Desta maneira, paciente que receber o diagnóstico fará de tudo, pagará qualquer valor e se submeterá a qualquer procedimento para salvar a própria vida.
Chegar ao ponto do câncer é, muitas vezes, ter que se submeter a procedimentos mais invasivos, mas mesmo durante esse momento é necessário respeitar e empoderar o paciente para que ele acredite que pode melhorar.
O diagnóstico do câncer pode ser muito lucrativo para a indústria da medicina, diversas vezes recebi pacientes em pontos inflamatórios absolutamente alarmantes, condição que já sabemos, pode evoluir para um câncer, mas não receberam nenhum aviso do profissional que havia solicitado o exame para que mudasse de conduta para evitar uma evolução desfavorável. Não é conveniente ficarmos tranquilos em nossas cadeiras, somente repetindo exames de controle, esperando o momento de poder dar uma informação oficial de um diagnóstico irreversível e somente então iniciar um tratamento. Muito pode ser feito antes.
Assim como quase todas as doenças, o câncer tem um caminho, não é uma condição inevitável. Por isso digo e repito quantas vezes forem necessárias: é importante ter cuidado com a saúde primária, com a saúde que se adquire no dia a dia.
Procedimentos invasivos são caros e trazem certo glamour para o médico que o executa, mas podem vulnerabilizar o paciente e devem ser preservados apenas para momentos em que existe uma inevitabilidade de outras opções. O paciente curado vai continuar a vida, e não é justo que tenha que sofrer ao longo de toda a jornada por um procedimento que poderia ter sido evitado.
Quanto mais o medo e os perigos são valorizados, frente a toda uma vida e história, mais dispostas a se machucar e mais frágeis para se curar estarão as pessoas.
Perigo e medo são coisas diferentes, o perigo é real, mas o medo só servirá para deixar a jornada mais estressante do que já é.
Desglamourizar a medicina, colocar os pés no chão e entender que alicerces de um bom estilo de vida são essenciais a todos que querem viver bem é um dos pilares principais de construirmos uma sociedade mais justa com cada indivíduo. E um grande estímulo para o médico que deseja investir na saúde integral e em uma sociedade mais sustentável. (@dra.meirasouza)