Não quero que se ofenda com o título desta crônica. Aposto que para sua mãe, cônjuge, filhos, amigos e até mesmo animais você é um ser que brilha em meio à multidão, mas, quando falamos de saúde, você não é tão excepcional quanto pensa. Pacientes apressados, não na consulta, mas na vida, me abordam com demandas grandiosas e uma expectativa de resolução de no máximo duas semanas, ou tempo que o valha.
Quando pensamos em dor aguda, é importante buscarmos uma resolução rápida. Ela é indicativa de algo muito severo e apresenta risco de vida. No entanto, quando pensamos em adoecimentos ou outras condições crônicas, é absolutamente irreal buscarmos uma solução rápida para algo que levou anos para ser construído.
Buscar soluções analgésicas para reduzirmos o desconforto durante o tratamento humaniza a condição do paciente, mas deve ser apenas um recurso durante o tratamento, e não a solução final.
Obesidade
Uma condição crônica frequente na clínica de dor é a obesidade. Comumente os pacientes com este quadro vêm a mim acompanhados de muita frustração e costumam já ter passado por muitos profissionais, e todos relatam a mesma coisa: “você precisa emagrecer se quiser ficar saudável”. Não importa o problema que apresentem ao médico, emagrecer parece sempre ser a solução.
Logo, é esperado que surja uma grande angústia para mudar esse quadro. Infelizmente, o modo como conduzimos estes tratamentos na sociedade atual é um verdadeiro “vale tudo” em nome da magreza.
Procedimentos invasivos
Solucionar um problema criando outros não é a melhor saída. Muitas vezes, os pacientes que optam por procedimentos invasivos, como a cirurgia bariátrica, voltam para o estágio inicial de peso, mas agora com muitos outros problemas de saúde, como: aumento expressivo da perda óssea, intensas dores musculares, causadas pela desnutrição proteica, e polineuropatias, causadas pela deficiência de vitaminas.
Existe uma ilusão em torno deste procedimento. Recebo pacientes que afirmam que vão realizar a cirurgia, mas que, diferentemente de todos que eles conhecem, não ficarão com nenhuma sequela, pois vão suplementar vitaminas e tomar whey.
O que não é explicado a esse paciente é que a cirurgia compromete também a capacidade de absorção dos nutrientes, de modo que mesmo a suplementação não consiga ser absorvida na quantidade necessária para privar o indivíduo de futuros problemas.
Consequências
Precisamos, então, nos enxergar com olhos mais humildes e entender que não estamos imunes às consequências daquilo que optamos por realizar.
Soluções rápidas e que não envolvem mudança de estilo de vida, responsabilidade e comprometimento costumam ser muito tentadoras, eu entendo; também gostaria de uma pílula mágica que curasse todos os meus problemas, mas isso não existe, nem na saúde, nem na vida.
Mesmo que opte pela cirurgia, uma mudança no estilo de vida é imprescindível para manter os resultados. Se ela ocorrer antes, melhor.