Editorial

Cicatrizes na lagoa

Os montes de areia simbolizam o descaso com a recuperação do maior patrimônio de Belo Horizonte, uma novela triste que é acompanhada há décadas pela população

Por O Tempo
Publicado em 27 de março de 2024 | 07:07
 
 
landscape-1588237_1280 (1)jpg Foto: Intervenção sobre imagem pixabay

Quem passa pela orla da lagoa da Pampulha nota que o espelho d’água está marcado por montes de areia que formam uma espécie de estrada artificial. As marcas simbolizam o descaso com a recuperação do maior patrimônio de Belo Horizonte, uma novela triste que é acompanhada há décadas pela população.

As estruturas que marcam o leito serviriam para auxiliar o processo de desassoreamento, mas já deveriam ter sido retiradas há pelo menos três anos, em 2021, quando terminou o contrato com a empresa Andrade Gutierrez. 

Pelo menos quatro delas foram identificadas por vereadores da CPI da Lagoa da Pampulha em visita técnica na tarde de ontem. 

Os projetos empreendidos nas últimas décadas para desassorear o leito não surtiram resultado positivo. Nos últimos 20 anos, foram gastos pelo poder público cerca de R$ 1,4 bilhão para limpar a lagoa, segundo investigação do Ministério Público de Contas do Estado de Minas Gerais (MPC-MG).

Anualmente, é retirado da lagoa o equivalente a 100 mil metros cúbicos de sedimentos, o suficiente para encher mais de 1.500 caminhões. Este é o resultado do descarte irregular de rejeitos, esgotos domésticos e carreamento de solos desgastados pela retirada de vegetação ou ocupação desordenada.

Fica claro que o espelho d’água reflete um emaranhado de problemas que vão do saneamento básico à habitação, sempre unidos pela falta de vontade política. Além de gastos elevados de maneira ineficiente, a descaracterização do conjunto arquitetônico é um prejuízo à imagem turística da capital mineira. 

Agora, vereadores prometem acionar o Ministério Público mais uma vez, para denunciar, principalmente, as estradas artificiais que formam cicatrizes na lagoa. 

A atitude dos parlamentares é válida e corresponde àquilo que se espera de quem tem o papel de fiscalizar a cidade.

Contudo, a desesperança já predomina no seio da população quando se fala na recuperação do patrimônio.