Além das mais de 150 mil mortes, a Covid-19 deixará um legado profundo na sociedade brasileira, ao aprofundar a desigualdade na educação dos jovens e reduzir suas oportunidades de ascensão. O estudo da FGV Social, com base em dados da Pnad, do IBGE, confirmou a percepção de que os jovens de baixa renda têm menos acesso à formação do que os das classes mais altas.
Em média, os estudantes de 6 a 15 anos das classes A e B têm 56,5% mais horas de aulas e atividades pedagógicas do que os da classe E. Os pesquisadores apontam ainda que os jovens de famílias mais abonadas puderam contar com melhor acesso à internet e supervisão familiar, pelo fato de os pais estarem em home office.
Regionalmente, quanto mais pobre o Estado, pior a situação. No Acre, por exemplo, os alunos da rede pública passaram menos de uma hora e meia por dia em atividades remotas, enquanto, no Distrito Federal, o índice foi próximo de três horas. Minas Gerais ficou acima da média nacional.
O diretor da FGV Social, Marcelo Neri, classificou a situação como uma “quebra de 40 anos” de avanço educacional no Brasil. Com menos horas-aula, essas crianças têm menos chances de chegar ao ensino superior. Nas famílias com renda mais baixa, somente três em cada dez filhos conseguem chegar à faculdade. E pouco mais da metade deles está em universidades federais, que respondem por 80% das notas máximas na avaliação de qualidade do Enade.
Os impactos se estendem à economia. Cada ano adicional de estudo representa um aumento de 15% nos salários e de 8% nas chances de obter um emprego. Em outras palavras, permitir que a pandemia continue a minar a educação significa que teremos um Brasil menos competitivo e mais pobre e desigual nas futuras gerações.