Desde 2010, as mortes por Aids vêm caindo acentuadamente e, no ano passado, chegaram a 770 mil, segundo relatório da Unaids (agência das Nações Unidas) divulgado ontem. O número, mesmo ainda elevado, é um sinal de esperança se comparado ao morticínio dos anos 90, quando, na falta de estatísticas confiáveis e com subnotificações de sobra, chegou-se a estimar os óbitos em mais de 3 milhões em um ano.
Graças aos avanços das terapias antirretrovirais, há 37,9 milhões de pessoas vivendo com o HIV. Depois de ter quebrado patentes da medicação, o Brasil dispõe de uma das políticas mais avançadas nessa área. Desde 1996, por lei, os pacientes têm direito ao coquetel gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde.
Os índices de novos casos caíram 40% desde 1997. E oito em cada dez mulheres grávidas pelo mundo têm acesso aos medicamentos. Um crescimento de 90% em menos de uma década que significa uma redução drástica no contágio de mãe para filho, inclusive em países africanos onde a epidemia, somada à desigualdade de renda, ganhou contornos de tragédia.
Mas os motivos para comemoração não podem cegar para a realidade do descaso e do estigma. Pela primeira vez, os recursos disponíveis para o combate à doença despencaram quase US$ 1 bilhão. Com menos doadores e menos investimentos nacionais, ficam faltando US$ 7,2 bilhões para se atingir o valor necessário para enfrentar o vírus em todo o globo.
E, apesar dos avanços contra o preconceito – uma constante desde os anos 80, quando, por ignorância, a doença foi chamada de “câncer gay” –, ainda falta trilhar um caminho muito longo para chegar a seu fim. Segundo o relatório, em 26 países, mais da metade dos entrevistados relataram atitudes discriminatórias contra as pessoas que têm HIV.
É por essas razões que a diretora executiva da Unaids, Gunilla Carlsson, afirma que a vitória contra a Aids virá quando o foco estiver nas pessoas, e não na doença.