Acostumamo-nos a associar corrupção com propinas pagas a agentes públicos, malas de dinheiro e transações escusas movidas por interesses nada republicanos. Mas não é sem razão que um levantamento continental realizado pela Transparência Internacional incluiu as fake News como parte dessa prática criminosa.
Para quatro em cada cinco brasileiros, notícias falsas foram deliberadamente disseminadas para influenciar o resultado das eleições do ano passado. No Barômetro Global da Corrupção da América Latina e Caribe, o país só fica atrás das Bahamas (85%) nessa percepção e pouco à frente de Argentina (81%) e Venezuela (80%).
A distorção de fatos para auferir vantagens eleitorais não é menos criminosa do que o suborno em troca de votos – ilícito citado por dois em cada cinco eleitores e que coloca o Brasil em terceiro lugar no ranking continental. Por trás dessas práticas há uma fraude destinada a deturpar os interesses legítimos do eleitor no momento mais significativo da democracia representativa.
Às vésperas do pleito do ano passado, um levantamento do Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP detectou que 12 milhões de pessoas compartilharam fake news em redes sociais em apenas um mês. Nesse universo digital, constata uma pesquisa da Universidade de Oxford, até 46% do conteúdo apresentado como noticioso não possui comprovação ou verificação de veracidade.
A melhor resposta para tal problema é o jornalismo livre, ativo e responsável, capaz de investigar e relatar, de maneira equilibrada e objetiva, as informações necessárias para apoiar o eleitor na definição de seu voto. Uma consciência que o cidadão já demonstra ao apontar no estudo da Transparência Internacional a imprensa como uma das instituições menos corruptas no Brasil.