Editorial

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García não poderia escapar a essas novas forças políticas que ascenderam na América Latina

Ferida de morte

Publicado em: Sex, 19/04/19 - 03h00

Políticos latino-americanos estão certamente abalados com a escolha feita pelo ex-presidente do Peru, Alan García, que se suicidou, na última quarta-feira, com um tiro na cabeça, ao receber ordem de prisão em sua casa, em Lima. 
São políticos que, como ele, são acusados de ter recebido suborno de uma empreiteira interessada nas suas eleições para que facilitassem as licitações para a construção de grandes obras de infraestrutura em seus respectivos países.
O processo se desenvolveu a partir do Brasil, espraiando-se por toda a América Latina e a África, envolvendo governos populistas, supostamente de esquerda. No entanto, o modelo não poderia se sustentar com a corrupção. 
O governo brasileiro pretendia aumentar sua influência política e econômica, financiando empreiteiras nacionais em outros países. Para isso, contava com o apoio do BNDES e da estrutura de comunicação de um marqueteiro.
García foi um dos políticos peruanos que se envolveram nesse esquema. Era acusado de receber propina da Odebrecht na licitação das obras de uma linha do metrô de Lima. Há pouco, tentou se exilar no Uruguai, sem sucesso.
Na semana que vem, um de seus delatores – que atuou durante dez anos no Peru – iria depor perante procuradores peruanos sobre atos ilícitos de ex-presidentes. García não foi o primeiro a se suicidar por causa da Lava Jato.
No Peru, a operação ganhou mais relevância do que no Brasil. Além de García, outros ex-presidentes são acusados. Alejandro Toledo e Ollanta Humala são investigados. Pedro Kuczynski estava em prisão preventiva.
Como acontece, tudo o que é sólido desmancha no ar. No Paraná, o acaso levou a polícia a investigar um deputado por lavagem de dinheiro. Ao puxar o fio da meada, descobriu-se um grande esquema de corrupção no Brasil. 
Aqui e no exterior, era a oportunidade para tirar do poder todos os políticos envolvidos em corrupção. García não poderia escapar a essas novas forças políticas que ascenderam, na América Latina, nos últimos cinco anos. 

 

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