Os resultados das últimas eleições são o reflexo de uma frustração que veio se acumulando, ao longo das últimas décadas, no ânimo dos brasileiros, com relação aos políticos tradicionais e até com a democracia.
Recebemos com estupefação, nos protestos de 2013, as manifestações de cidadãos pedindo uma intervenção militar. Não obstante, demos pouca atenção a isso, considerando que eram atos sem consequência.
Essas reivindicações estão sendo atendidas agora, dentro da legalidade, é verdade, mas como foram pedidas. O eleitorado deu um basta na polarização PT versus PSDB, elegendo candidatos fora dessa dicotomia.
Tem horas que estrangeiros veem a realidade brasileira melhor que nós próprios. O cientista político Riordan Roett, da Universidade Johns Hopkins, dos EUA, que há 50 anos estuda o Brasil, foi certeiro.
Ele disse a propósito de nossa história recente: “Nenhum governo fez o que era necessário em termos de educação, saúde, saneamento, habitação: nem os militares, nem os populistas, nem os democratas”.
Agora, abre-se outro ciclo, no qual as esperanças se depositam sobre um novo personagem. No domingo, após a divulgação dos resultados, parte da população comemorou com alegria, como fez outras vezes.
O desafio que se apresenta ao novo presidente é gigantesco. Para os brasileiros, ele é um enigma. Pouco se sabe sobre suas intenções, a não ser que quer “transformar o Brasil numa grande, livre e próspera nação”.
É o que todo mundo quer. Enquanto candidato, ele e seus competidores abordaram todos os temas, mas de modo vago. Não houve tempo, nem interesse, nem condições para fazer maiores aprofundamentos.
A economia, que carrega o ônus de manter desempregados 13 milhões de brasileiros, esteve marginalizada dos debates. É hora de ela voltar a ter destaque se quisermos superar aquela frustração histórica.