Mais de 40 mil pessoas desalojadas na Costa Oeste dos Estados Unidos, desabrigados na França, na África do Sul e em Portugal, mil queimadas por dia na Amazônia, 2,3 milhões de hectares destruídos pelo fogo no Pantanal, 41% da serra da Moeda calcinada e cinco ocorrências de incêndio em matas da região metropolitana em um fim de semana. Nunca o clichê “o mundo está em chamas” retratou de forma tão literal a realidade, e as marcas da responsabilidade por isso estão em mãos humanas.

Apesar de o período que antecede a primavera no Hemisfério Sul ser tradicionalmente de poucas chuvas e muito vento, a intensidade dos incêndios agora chama atenção. E isso se deve ao encontro de duas situações: os reflexos climáticos da hiperexploração dos recursos naturais e o comportamento imprudente, quando não doloso, de destruição das matas.

As gigantescas emissões de carbono pela queima de combustíveis fósseis em indústrias e no trânsito estão ligadas às ondas de calor na Europa e nos Estados Unidos e ao descontrole do clima. Em julho, por exemplo, a Sibéria, localizada dentro do Círculo Ártico, registrou temperaturas acima de 37°C.

No Brasil, a exploração predatória das riquezas naturais multiplica as queimadas para dizimar florestas e abrir campos para pastagens. Somente em agosto, foram quase 10 mil focos no Pantanal e 30 mil na Amazônia, lançando milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Cria-se, assim, um ciclo interminável, em que os incêndios agravam o aquecimento global, que torna ainda mais devastador o fogo nas matas.

Apagar essa chama demanda muito mais do que água e abafadores, exige uma mudança cultural e de procedimentos produtivos para que, no fim, só nos restem as cinzas.