Os dados do IBGE divulgados ontem revelam que 200 mil brasileiros deixaram a condição de analfabetos no ano passado. Um fato digno de nota, mas apenas um leve alento para o fato de que ainda há 11 milhões de pessoas no país que não sabem ler ou escrever. E, pior, o índice de 6,6% de analfabetismo na população significa que somente agora o país atingiu uma meta que deveria ter sido cumprida há cinco anos, segundo o Plano Nacional de Educação.
A sala de aula deveria ser o trampolim para a justiça social no país, mas, infelizmente, tem sido o limiar do grande fosso da desigualdade nacional. Mais da metade dos iletrados no Brasil se concentra nos Estados do Nordeste, justamente os de menor renda, enquanto apenas um quinto vive no Sudeste, onde há maior concentração de emprego e renda. E se o corte de análise for racial, o índice de analfabetismo entre pretos e pardos é o dobro do registrado entre brancos.
O país evoluiu, sim. Não se pode ignorar 56 milhões de brasileiros em creches e escolas, com 99,7% da população entre 6 e 14 anos matriculada. Tampouco se podem fechar os olhos para o fato de que esse índice despenca 10 pontos percentuais quando se chega à faixa de 15 a 17 anos, jovens arrancados das carteiras pela necessidade de trabalhar. Para garantir que suas famílias tenham um mínimo de renda hoje, abdicam das condições que os levariam a disputar salários dignos no futuro.
Infelizmente, o Brasil ainda gasta mal os recursos de que dispõe. Os cerca de US$ 4.000 anuais aplicados por aluno mal chegam à metade do que a média dos países da OCDE destina aos jovens. Sem falar que apenas R$ 1 a cada R$ 10 do Orçamento da Educação é destinado a investimentos – uma receita para o fracasso que qualquer um é capaz de ler e compreender.