No fim de março do ano passado, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertava sobre a diferença do novo coronavírus em relação à gripe suína, que teve seu surto global em 2009. “Esse vírus ataca o sistema de saúde, ataca a logística”, disse o chefe da pasta, referindo-se ao causador da Covid-19. Um ano depois, a prevista exaustão da logística nacional torna iminente a falta de sedativos usados para intubação em diversas partes do país. A cadeia de fornecimento e a gestão pública não estão dando conta de acompanhar a demanda por insumos na segunda e mais grave onda da pandemia.

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) disse que alertou o governo federal, em agosto do ano passado, sobre a necessidade de coordenação nacional e de planejamento de compras dos insumos que compõem o kit-intubação. No último ano, a média de uso desses medicamentos nos hospitais aumentou de seis horas para 24 horas, segundo o CNS. Por sua vez, o governo disse, por meio da Advocacia Geral da União (AGU), que a compra desses itens é de responsabilidade de Estados e municípios, em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira (7). 

No meio desse impasse, vítimas da Covid-19 vivem um pesadelo em hospitais, com risco de terem que passar pelo doloroso e desumano processo de intubação estando conscientes, na falta de sedativos e bloqueadores neuromusculares.

Em efeito dominó, a escassez do chamado “kit-intubação” impede a abertura de novos leitos de UTI e, consequentemente, aumenta a chance de mortes por complicações da Covid-19. Para interromper definitivamente esse ciclo, deve-se quebrar o elo de proliferação do coronavírus. Isso só é possível com medidas eficientes de contenção do contágio e com a aceleração da imunização.