O Brasil nunca entrará de fato no século XXI se mantiver o tratamento medieval que concede às mulheres. Todos os dias, são registrados mais de 180 estupros no país, mais da metade deles cometidos contra crianças de 13 anos ou menos. No ano passado, 1.206 pessoas foram vítimas de feminicídio, ou seja, assassinadas simplesmente pelo fato de serem mulheres.
Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram o quanto o gênero pode ser usado como pretexto para a desumanização de alguém até ela ser vista como um objeto para o desejo ou para a ira de um homem que, na maioria dos casos, não lhe é uma figura estranha.
Nos casos de abuso sexual, sete em cada dez agressores têm algum tipo de vínculo com as vítimas – são vizinhos, conhecidos ou parentes –, fato que envolve em tabu e culpa um comportamento criminoso que não raramente fica impune. Estima-se que apenas sete de cada cem mulheres estupradas procurem a polícia para prestar queixa.
Nove em cada dez feminicidas também se escondem atrás da desculpa de que assunto familiar não diz respeito à sociedade. São companheiros e ex-companheiros que não se consideram partes de um relacionamento, mas detentores do título de posse sobre a vida da parceira.
Vida, respeito e dignidade são direitos individuais, inalienáveis e vigentes tanto nas ruas quanto dentro do lar – independentemente de gênero, raça ou credo. Só quando isso for conquistado plenamente por homens e, principalmente, mulheres, o Brasil poderá, enfim, viver em uma sociedade livre, justa e moderna.