Tempos de crise geram novas respostas para novos desafios, e a autorização de atendimento à distância com recursos tecnológicos era uma solução que aguardava a oportunidade para enfim chegar ao público. O ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) que liberou a telemedicina, na última quinta-feira, corrige a distorção de seu arquivamento no início do ano passado e permitirá desafogar os centros de saúde com segurança para profissionais e, principalmente, para os pacientes.

Pela norma divulgada, os médicos poderão orientar e encaminhar para isolamento os infectados pelo vírus, monitorar sintomas e condições de pacientes e possibilitar a troca de informações entre especialistas para melhor definir o diagnóstico. E, diferentemente do que previa a portaria engavetada em fevereiro do ano passado, não será necessária a primeira consulta presencial.

Os avanços tecnológicos, como internet de banda larga e câmeras de alta qualidade em smartphones, possibilitam, há muito tempo, a troca de informações segura e confiável, mas os conselhos regionais resistiam à sua adoção. Um dos problemas é o dilema ético de como fazer essa consulta à distância preservando o sigilo das informações do paciente, previsto em lei, nas regras de conduta profissional e, inclusive, no juramento de Hipócrates.

A emergência da pandemia não justifica romper os imperativos éticos, mas a criptografia de dados e a cibersegurança já avançaram a ponto de permitir superar essa dicotomia. E a experiência recente mostrou a confiança dos pacientes nessa prática. Nos Estados Unidos, sete em cada dez pessoas entre 18 e 44 anos preferem a telemedicina às consultas tradicionais, segundo pesquisa da PwC. Agora, de forma responsável, essa inovação poderá servir, também, para conter a curva do contágio de forma que não haja sobrecarga aos serviços nem colapso do sistema físico de saúde.