Vittorio Medioli

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A fórmula mágica

Publicado em: Dom, 06/06/21 - 03h00

No sábado, chegou ao meu WhatsApp a mensagem da Secretaria de Saúde de Betim informando a escala de vacinação desta semana. A prefeitura receberá nesta segunda-feira, 7 de junho, um lote de 10.451 doses da vacina AstraZeneca, da Fiocruz. O número é insuficiente para atender o restante de pessoas de grupos prioritários que aguardam na fila.

Betim registra preocupante atraso na cobertura vacinal dos grupos de saúde (retaguarda), segurança pública, pessoas com comorbidades e da educação básica e maternal.

A cidade tem 444 mil habitantes, e os grupos prioritários correspondem a 165 mil pessoas, cerca de 37% da população. Apenas 86 mil habitantes tomaram a primeira dose, e outras 50 mil pessoas foram imunizadas na segunda rodada ou aguardam por ela nos próximos dias.

Na lista de municípios que vão receber doses na segunda-feira, publicada pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, consta a distribuição de 104.791 unidades para Belo Horizonte; já para Betim, repito, são 10.451 doses. Se analisarmos pelo número total de habitantes, BH receberá 104.791 doses/2.521.000 habitantes, o equivalente a 4,51% da sua população. Registre-se que a capital representa 12,01% da população do Estado e receberá 18,34% do lote, ou seja, 6,33 pontos percentuais a mais do que representa sobre o total populacional.

O grave é que essa desproporção continua praticamente a mesma desde a primeira remessa, em janeiro deste ano, abrindo uma diferença total notável.

Até segunda-feira, BH receberá doses equivalentes a 70% da sua população, e Betim, a 33%.

Na capital, na segunda-feira se apresentam nos postos de vacinação grupos de habitantes classificados apenas pela idade (59 anos), sem comorbidades. Em Betim, não se conseguirá concluir a vacinação das pessoas com comorbidades, nem a retaguarda da saúde, com 2.000 pessoas, nem da segurança pública, com 940, nem sequer será possível atingir o setor de educação, com 12 mil funcionários. Para se chegar à primeira dose dos grupos de 59 anos sem comorbidades, ainda faltam 60 mil pessoas, como as da educação, os metroviários, ferroviários, industriários, motoristas.

As reclamações sobre os critérios já foram levantadas nos últimos meses: “Por que razão recebemos proporcionalmente a metade das doses da vizinha BH?”. As respostas sempre são vagas, jogando-se a responsabilidade para o governo federal.

Decidi passar uma mensagem, ontem, no começo de tarde, ao governador Romeu Zema, perturbando seu descanso. Afirmei minha estranheza sobre a disparidade de tratamento e a insustentabilidade da situação, especialmente no caso da educação, que, paralisada, deixará crianças a perder dois anos de aulas presenciais, caso não se cumpra uma heroica tarefa de recuperação.

Essa recuperação parte, exatamente, da vacinação dos professores e do pessoal auxiliar. O governador me respondeu de imediato, também com estranheza pelos números díspares. Informou: “Vou pedir explicação...”.

Por volta das 16h, quando imaginava que só na segunda-feira receberia um retorno, chegou uma mensagem do secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti. Nele me copiava a fórmula adotada na divisão, sugerida pelo Ministério da Saúde. Estaria, assim, baseada na proporção das vacinas antigripais dos últimos dois anos. Enfim, o imbróglio aparece! O sistema SUS em Belo Horizonte aplicou 291 mil doses em 2020, o equivalente a 11,56% da população; em Betim, foram 25 mil doses pelo SUS, ou 5,54% da sua população. Disso se explica a disparidade. BH sendo atendida na média de 11,56% da sua população, e Betim, em 5,54%, chegou-se a uma disparidade. Este é principal “quid pro quo”, entre outros de menor impacto.

Argumentei com o secretário Baccheretti que, apesar de recomendado pelo ministério, foge da necessidade real de imunização da população, e, seguindo por esse caminho, Belo Horizonte terá vacinado 100% de seus habitantes, enquanto Betim estará chegando aos 50%.

Afinal, concordou-se que a distância que vem se abrindo entre municípios precisa ser equacionada, pois esta incide, também, na mortalidade da população nos municípios; quanto menos imunizada, maior o risco de óbitos.

Findei o dia com agradecimento à intervenção do governador Romeu Zema e com a promessa do secretário de rever a fórmula “mágica”, que precisa ser corrigida.