Completaram-se 500 anos da morte de Leonardo da Vinci sem que sua obra ainda esteja totalmente compreendida, apesar de universalmente admirada. Algumas peças dele mostram-se frutos de uma genialidade extraordinária.

Leonardo era filho ilegítimo de um abastado florentino. De personalidade diferenciada, com apenas 17 anos fugiu de uma condenação à morte por relações homossexuais. Saiu da Florença, governada pela família Medici, e acabou se consagrando como gênio, no final do século XV, em Milão, na corte de Ludovico, “o Moro”, da família Sforza, reafirmando que “santo de casa não faz milagres”.

Dotado de faculdades extraordinárias, continua a ser um mito e objeto de estudos dentro e fora da Europa. 

Durante o susto do coronavírus, que amedrontou o planeta, fez cair as atividades econômicas, encolher em 10% os valores de trilhões das Bolsas, num fenômeno que não se repetia desde a Depressão de 1929, Leonardo forneceu alguns argumentos interessantes, escritos há cinco séculos.

“Chegará o dia em que os homens julgarão a matança de um animal da mesma forma que julgam hoje a de um homem”. Além de ser vegano convicto, Leonardo associava o sofrimento dos animais ao dos homens e profetizou que no decorrer da evolução humana se instalaria a percepção das circunstâncias não apenas materiais e físicas, mas também intelectuais e espirituais, provocadas pelos sofrimentos de animais.

Muitos dos vírus e bactérias super-resistentes dos últimos cem anos se originaram e continuam a eclodir dos maus-tratos de animais, sacrificados para alimentar seres humanos.

A gripe asiática de 1957 partiu da criação de patos na China para atacar os humanos e provocar 1,5 milhão de mortes. A aids partiu do contato com macacos ocorrido na década de 1950, na África, e se propagou para o mundo ocidental no início dos anos 1980. A doença conhecida como “vaca louca” explodiu em 2001 em confinamentos de bovinos submetidos a ração e hormônios absolutamente impróprios para herbívoros. A gripe aviária de 1997 apareceu em aviários de Hong Kong. A Sars, em 2003, também era de origem zoonótica, atribuída a gatos comercializados na China. Já em 2009, a gripe suína partiu da criação de porcos em áreas de extrema pobreza no México.

Em comum, essas doenças têm o interesse na redução de custos na engorda de aves, suínos, bovinos e animais selvagens, submetidos a condições cruéis, sem higiene, sem respeito pela situação aviltante em que são enclausurados. Frangos, porcos e vacas que mal podem se movimentar, que são criados com o interesse de aumentar os lucros de quem os comercializa, por vezes são alimentados com substâncias não condizentes, escórias insalubres, e castigados com luz artificial, que acelera o metabolismo.

A contradição com a natureza e a concentração fora de seu habitat provocam a degeneração do sistema imunológico, e se insinuam doenças epidêmicas, que se transmitem entre eles e atingem, enfim, seus algozes e os consumidores.

Os tratos dispensados aos animais – que, sem consideração das características das raças a que sempre pertenceram, são sufocados pela falta de espaço e de higiene e pelos sofrimentos cruéis – levam a perder as autodefesas e a permitir, com insolente frequência, o desencadeamento de doenças até então desconhecidas. Não porque os animais mudaram, mas porque o homem mudou em relação a eles.

Esses “pecados” cobram penas aos animais e um castigo (cármico) à raça humana, que, por ação ou por omissão, permite a consumação de grave injustiça.

Nota-se que o adensamento dos animais, além de provocar situações exterminadoras, impõe à população humana a necessidade de distanciamento e separação para evitar o contágio por meio de toque ou da mera presença no mesmo ambiente.
Leonardo era, certamente, um ser privilegiado e “incompreendido” – adiantado em relação ao seu tempo, a ponto de ter que tomar cuidados para não ser vítima de incompreensão, preconceitos e perseguições de inquisidores.

Em Leonardo, entretanto, temos a visão de uma tendência dos nossos dias, que vem crescendo no veganismo e convencendo grande parcela da humanidade a se abster daquilo que origina sofrimento.