As decisões mais polêmicas, sensíveis, importantes, que impactam a vida de todos, e como forma de superar as barreiras erguidas pelos "poderes", deveriam ser decididas pela via plebiscitária. Ou seja, pelo voto direto da população, convocada a expressar suas preferências.
Essa fórmula, usada constantemente nos países de democracia mais madura, especialmente da Europa, serve e serviu para limitar abusos de poder e direcionar as escolhas do Poder Legislativo conforme a maior parte da população deseja e quer.
Hoje, várias questões extremamente polêmicas estão sendo tratadas aparentemente contra o que a população deseja e sondagens apontam. O sentimento de usurpação da vontade popular se alastra e inunda o país.
Para definir questões de ordem institucional, ideológica e até de foro íntimo, seria extremamente oportuno, justo e interessante que fizessem parte de uma lista a ser submetida à consulta popular. Prevaleça a maioria! Não a parlamentar, não a das Cortes superiores, que são apenas representativas da vontade popular, mas diretamente dela.
Teria um efeito de realinhar anormalidades, denunciadas pela própria população. Afinal, decidiu-se que a vontade da maioria dos eleitores deve prevalecer, ao menos em relação às escolhas que influenciam e condicionam a vida de todos.
Os níveis salariais, a duração de qualquer mandato, a reeleição, a eleição digital ou impressa, a propriedade, o financiamento dos partidos e das eleições, eventuais anistias e uma infinidade de outras questões deixam a democracia brasileira capenga. Pior, permite-se a qualquer representante, mesmo não eleito pelo povo, de se vestir de defensor dele para fazer prevalecer um entendimento que mais parece pessoal do que popular.
Poderíamos assim eliminar os debates estéreis, brigas oportunistas, confusões permanentes que nos ocupam e decepcionam. Se somos democratas de verdade, devemos aceitar o que a maioria quer, por via direta e irrefutável.
Em épocas passadas, os referendos chamavam a população para decidir se queria substituir o presidencialismo pelo parlamentarismo e, também, se queria desarmar a sociedade, mas a consulta popular barrou essas iniciativas, que tinham a maior parte do Poder Legislativo favorável. Comprovou-se o desvio, o afastamento de representantes dos seus mandantes. Isso é bem recorrente.
Os resultados das consultas anteriores definem que o povo pensa diferente da elite legislativa. Bem por isso, a democracia deve recorrer com frequência a consultas por plebiscito ou, ainda mais, por referendo, para manter o Congresso Nacional mais próximo e coerente com a vontade popular, especialmente em relação aos financiamentos de partidos e das eleições, hoje financiados em exorbitância escandalosa pelos cofres públicos em prejuízo da população. E há, ainda, os descontos compulsórios em favor de sindicatos, tanto de trabalhadores como de setores empresariais, que criam elites às margens do interesse das categorias representadas. Vejam-se as recentes apropriações criminosas aos aposentados brasileiros que chocaram o mundo inteiro. Apenas no Brasil isso se verificou, não há precedentes nem similares no planeta.
A desconfiança em relação às principais regras adotadas em desfavor da população – especialmente da mais necessitada – e que beneficiem elites políticas opulentas, que legislam em proveito próprio, deveria se desfazer com uma grande consulta popular. Esta, mais do que uma Constituinte, que provavelmente reforçaria o domínio de poucos contra o interesse de todos, colocaria em sintonia os governantes e legisladores com a população.