O TEMPO

A urgência das ações

Leia a coluna de Vittorio Medioli sobre o coronavírus

Por Vittorio Medioli
Publicado em 22 de março de 2020 | 03:00
 
 

Ao tomar conhecimento pela web do que está ocorrendo neste momento na Itália, país mais atingido no planeta pela pandemia de Covid-19, pode-se tirar ensinamentos preciosos que levarão a poupar muitas vidas aqui, no Brasil.

A maior lamentação transmitida agora por unanimidade: “Deveríamos ter tomado medidas mais drásticas já no primeiro aparecimento do contágio”.

Entre os dias 20 de fevereiro e 11 de março, em 20 dias úteis, registraram-se 827 mortes. Nos últimos dez dias, até 21.3, morreram 3.998 pessoas. Apenas no dia de ontem foram 792 óbitos, quase a mesma soma de todos os primeiros 20 dias.

O crescimento avança acentuadamente, e ainda não há sinais de diminuição da progressão.

Precisamos prestar muita atenção aos acontecimentos para poder enfrentar o mal pela raiz.

A Itália tem uma população de 60,4 milhões de habitantes, possui um sistema de saúde pública e privada entre os melhores do mundo. O fenômeno eclodiu nas cidades mais ricas do país, como Bréscia, Bérgamo e Milão, com renda por habitante entre as maiores da Europa.

São as cidades com maior relação de comércio e movimentação de pessoas e mercadorias com a China. Muitas empresas com estabelecimentos nessas cidades possuem filiais e relações estreitas com a China, país que deu partida à pandemia. Ontem liguei para Bréscia, onde tenho conhecidos, as notícias são estarrecedoras, a cidade vive um pesadelo. Pouco adiantaram a riqueza, o luxo, a situação abastada, os serviços públicos entre os melhores do mundo. Imagine que a Prefeitura de Bréscia fornece água quente em quase todas as habitações do seu território.

No Brasil os primeiros casos surgiram em São Paulo e Rio, cidades que registram movimentações com a China e também com Itália, Alemanha e Espanha, países que lideram o ranking dos casos de Covid-19.

Um fator que tirou seriedade e gravidade nos países mais distantes da China do fenômeno do coronavírus é o exemplo do surto da gripe H1N1, considerada mais letal que a Covid-19, mas de propagação muito mais lenta.

A consideração inicial era que, se passamos sem graves problemas pelo H1N1, também passaríamos pela Covid-19, que deverá encontrar em breve uma vacina eficiente.

Entretanto, a Covid-19 tem um poder de desencadear pneumonias graves, que levam ao falecimento idosos, hipertensos, diabéticos, obesos, transplantados e imunossuprimidos. Agora mais ninguém se salva, e todas as faixas etárias e tipologias correm riscos. Ademais, quando o surto é explosivo, não há como internar todos ao mesmo tempo para oxigenar os pulmões e prestar socorro na fase pré-aguda.

A resistência do coronavírus e a facilidade com que se difunde e se mantém ativo por longo tempo nas superfícies que atinge complicam o seu combate. O melhor ataque é usar água e sabão nas mãos, no rosto e, ainda, o álcool medicinal em dosagem 70%. Quanto mais álcool e detergentes forem disponibilizados à população e detergentes, menos condições encontrará o vírus de sobreviver. Obviamente manter uma distância prudencial de outras pessoas e abster-se do contato de superfícies reduz drasticamente a possibilidade de se contrair a doença.

Não há dúvida de que, eliminando de circulação os microrganismos, a batalha será vencida mais facilmente. Quanto menos, melhor, e isso deve partir da informação correta, da conscientização de toda a população.

Estão surgindo medicamentos como a cloroquina, que se mostram eficazes quando associados a outros medicamentos.

Na China, de onde veio o contágio, já não se registram novos casos. As informações que chegam desse país não são das mais confiáveis, mas pelos resultados há como crer que descobriram a fórmula de curar e que cabe a esse país divulgar e disponibilizar os medicamentos, antes mesmo que multidões cheguem a ser dizimadas.

Aqui, a nossa capacidade de combate até o momento é assustadoramente inferior, precisamos manter as pessoas isoladas, suspender a circulação não justificada pela essencialidade que pode justificar. Distribuir em massa detergentes, sabão e especialmente álcool, que em razão de segundos desintegra o microrganismo.

É preciso entender que as perdas econômicas e sociais serão menores se o combate for rápido e severo, só dessa forma sairemos dessa pandemia mais rapidamente.

É de estarrecer como o TSE até agora não estabeleceu uma nova agenda eleitoral, sendo que atual prevê o término das filiações e dos cadastramentos no dia 4 de abril. Aliás uma boa medida seria suspender as eleições e levar o Fundo Eleitoral de alguns bilhões para a conta de combate à pandemia. Se depois nossos representantes no Congresso decidissem unificar as eleições, nacionais e municipais, seria uma economia incrível, e, se nesse ato de coragem decidissem cortar as vagas do Poder Legislativo de 20% a 30%, o Brasil ganharia recursos para enfrentar seus mais graves problemas.

Se o mal e o sofrimento carregam importantes recados e oportunidade, provavelmente a pandemia levará o Brasil a considerações até então inusitadas e inspiradoras.