Consultados alguns conhecedores dos fluxos e rotas de exportação do Brasil, chega-se a uma conclusão que ainda não li claramente na imprensa nacional nem escutei de tribunas parlamentares. Na análise dos possíveis e mais prováveis impactos, aparece que o pagador, ou o maior penalizado, não será o cidadão brasileiro, que, aliás, pode se beneficiar momentaneamente de um aumento de oferta interna e consequente de diminuição de preço da cesta básica, mas será o cidadão americano a sofrer um movimento contrário.
Os três principais itens em ordem de grandeza econômica penalizados com 10% mais 40 % são café, carnes e frutas. O café representa cerca de 8 milhões de sacas por ano e um valor próximo de R$ 6 bilhões, entretanto esse item de consumo está em franco aumento no mundo, e a produção atual aponta ser suficiente para manter estoque por apenas 45 dias.
Os EUA consomem 24 milhões de sacas, e substituir 8 milhões de uma hora para outra, cerca de 33%, é bem complicado. Os americanos, considerando a tarifa extraordinária de 40%, calculando-se que o consumidor não quer abdicar de seu café matinal, deverá desembolsar em média mais 13%. Poderá ter uma leve queda, mas, numa economia com renda média por habitante de US$ 85,8 mil (R$ 470 mil), isso representa por habitante US$ 3, ou R$ 16,50, por ano. A mesma conta, aplicada à fruta brasileira, num volume anual de US$ 148 milhões (valores de 2024), representa per capita, no mercado estadunidense, US$ 0,16, ou R$ 0,88, por habitante americano.
Se considerarmos ainda a carne, em 2024 exportamos US$ 1,4 bilhão; a sobretaxa de 40% representa US$ 400 milhões, ou US$ 1,05 per capita, ou R$ 5,77 por habitante. O impacto desses itens sobre o consumidor nos Estados Unidos é de US$ 4,20 anuais; considerando a renda de US$ 85,8 mil, temos uma fração infinitesimal e desprezível. Já no mercado interno, para os brasileiros, poderá ser gerada uma maior oferta caso os EUA diminuam suas compras sobretaxadas.
Tem outro fator ainda não dito: os grandes importadores são tradings que operam em vários mercados internacionais e que têm facilidade de reposicionar em poucas semanas seus movimentos de compra e comercialização. O caso mais complexo seria o do café, mas, alterando algumas rotas de países produtores, como Indonésia, Vietnã, Colômbia, Etiópia e Peru, as tarifas de 40% se tornariam ineficazes nos EUA, ou absolutamente desprezíveis.
Os grandes comercializadores podem redistribuir as cartas do jogo sem desabastecer o mercado. O café disponível é estritamente demandado, e o aumento de consumo previsto até 2030 é estimado em até 30%.
Trocar café vietnamita e colombiano com o brasileiro resolve a briga. Contudo, o estresse atinge as Bolsas, e nesses dias são os especuladores que ganham sem suor em cada crise. Podemos concluir com certa confiança que tanto barulho nos últimos dias tem fundo mais político do que propriamente econômico. Trump não aceita que o Brasil, por meio de seu presidente, se faça protagonista da China e de seu modelo tentacular, que vem aniquilando setores produtivos no Ocidente, dando vida a monopólios no Oriente. Seria a derrocada da hegemonia americana e ocidental. Esta é hoje a convicção de EUA e UE, passando numa reformulação de suas estratégias. Nisso, o Brasil, ao lado da China, se torna uma pedra pesada do Ocidente pelos grãos, minérios estratégicos e celulose que produz.
Esticando mais a corda com Trump, o cerco ao Brasil pode se intensificar com sanções econômicas dos aliados dos EUA, os mesmos que decidiram destinar trilhões de dólares para armamentos.
Em relação ao Judiciário brasileiro, ele tem duas origens. Uma, que é a maioria, é a que sai de concursos públicos, e a outra é de indicação política, privativa do presidente da República, esta última instância irrecorrível. Maduro, na Venezuela, se fez ditador, na prática, vitalício com o “seu” Judiciário. Trump não se queixa do sistema judiciário como um todo, apenas daquele com origem e méritos na militância e afinidade partidárias. Na realidade, os brasileiros estão sendo estressados por algo que é resolvível com um telefonema, deixando de lado efeitos de popularidade em ano pré-eleitoral.
Algumas arrumações e a correção de excessos podem deixar o Brasil livre de uma briga paga pelos fracos. Sempre eles!!!