O TEMPO

As fardas na eleição

Como vencedor da primeira rodada de pesquisas do DATATEMPO aparece surpreendentemente o Exército

Por Vittorio Medioli
Publicado em 26 de setembro de 2021 | 03:00
 
 

As últimas eleições presidenciais escancaram um comportamento suspeito, podemos dizer até vergonhoso, de alguns institutos de pesquisas na cobertura dos pleitos. Abdicaram do compromisso com a verdade, imprescindível para manter a credibilidade. Alguns desses entes pulverizaram a respeitabilidade conquistada em outras épocas. 

No afã de alcançar fama e projeção, consumaram-se conluios entre candidatos e institutos de pesquisas, tentando embaralhar a realidade na percepção do eleitor. Embora a falsidade seja um recurso de pouca utilidade para alterar o resultado final, não há como negar a influência nas alianças, na captação de financiamentos e na injeção de euforia nos apoiadores desmotivados. 

Podem anabolizar momentaneamente o candidato e lhe dar um fôlego estratégico. Pode ser considerado doping eleitoral, com a esperança de reanimar um projeto fragilizado. 

Nos últimos anos, tem-se notado que o sentimento que percorre as redes sociais é facilmente mensurável com as ferramentas de pesquisas, e, quando a discrepância entre saúde “virtual” e saúde da pesquisa se faz notar, deve-se suspeitar com razão de manipulação. 

Sempre Editora e seus veículos de informação firmaram uma tradição de coerência, qualidade e respeito ao leitor. Exatamente dentro desse ambiente de credibilidade é que seu portal de notícias O Tempo alcançou mais de 40 milhões de acessos mensais, em 168 países, destacando-se que mais da metade de consultas é proveniente de internautas de fora de Minas. Seus 13 milhões de usuários únicos o colocam entre as principais fontes noticiosas do país, o mais acessado de Minas. 

Decidiu-se assim ampliar a estrutura editorial de O Tempo também em Brasília e realizar pesquisas de opinião em âmbito nacional, adotando a mesma metodologia que consagrou o DATATEMPO como o ente de maior acerto nas sondagens de eleições dos últimos 25 anos em Minas. 

A primeira pesquisa nacional já foi publicada nos últimos dias, quando faltam quase 12 meses para as próximas eleições presidenciais e estaduais. 

Nesta altura do processo, é prudente avaliar com maior atenção o contexto mais amplo de dados, pois os candidatos ainda terão que passar por várias etapas até outubro de 2022, enquanto a conjuntura já sinaliza tendências consolidadas.  Veja-se que há quatro anos Bolsonaro se apresentava como uma hipótese remota, Romeu Zema nem sequer era citado entre as possibilidades de concorrer. As candidaturas podem tomar asas de uma hora para outra ao encarar as tendências mais marcantes. Assim, estar na frente ou atrás tem que ser avaliado com prudência. 

Chama a atenção, em primeiro lugar, a corrosão das instituições públicas; em segundo, uma notável tendência de rejeição aos ocupantes do poder. 

Trata-se de um clima instável, com a radicalização aumentando para a direita e para esquerda, fator que pode abrir uma avenida no meio. Tanto pela exaustão das ideologias e da credibilidade de velhos nomes. Na realidade, a população brasileira mostra que é, em sua maioria, centrista e progressista, quer estabilidade econômica, desenvolvimento e melhorias de vida. Também se destaca a rejeição à corrupção, a mais detestada do momento. 

Inédito e acentuado, aparece o desgaste do STF, farol do sistema judiciário nacional, que registra uma confiança negativa de 53,2% e positiva de 31,1%. Um pouco pior é a situação do Congresso Nacional, com índice negativo de 56,9% e positivo de 25,5%. Em seguida vem a Presidência da República, com 62,4% negativo e 30,2% positivo. Entre as instituições, os partidos políticos são o ápice da negatividade, com 73,9%, e apenas 14,2% de positivo. A fama foi recolhida com atitudes de costas para a população e a moralidade. Nesse mar de negatividade, que devasta o conceito das instituições, despontam apenas e solidamente as Forças Armadas, com 29,5% de negativo e um positivo marcante de 58,2%, em patamar isolado, único com saldo altamente positivo de confiança. 

A pesquisa também sondou que a intervenção militar seria apoiada se houvesse “corrupção” por 46,5% da população, em caso de “violência urbana” por 53,2% e se houvesse “fraude eleitoral” por 52,7%. 

Nesse cenário, como vencedor da primeira rodada de pesquisas do DATATEMPO aparecem surpreendentemente as Forças Armadas. 

A corrosão geral das instituições gera uma situação inusitada e faz das Forças Armadas o peso mais pesado, e determinante, se as eleições fossem hoje, sempre que assim decidissem seus líderes. 

Disso perdeu força a ideia de impeachment do presidente Bolsonaro, para não colocar um general (o vice Mourão) no comando do governo. Essa opção, neste momento, seria indigesta para quem tem ambições ao Planalto.  

Pela primeira vez as Forças Armadas têm condições de ocupar a Presidência sem golpe e sem tanques nas ruas, apenas no voto.