Da tribuna da Assembleia Legislativa e, em seguida, nas redes sociais, na terça-feira passada, o deputado Sargento Rodrigues (PTB) citou desonrosamente este jornal, O TEMPO, por suposta parcialidade.

O jornal, “sem tocar no nome de qualquer dos candidatos”, relatou um episódio ao menos bizarro, com requintes de crime eleitoral, ocorrido no dia 13, sábado, num hotel de Belo Horizonte, às 17h. Um dos 40 participantes de uma pesquisa qualitativa, realizada por um instituto que pagou R$ 80 sem fornecer comprovante legal, se deu por “chocado” e procurou a redação de O TEMPO. Relatou com abundância de detalhes o que presenciou, e disso se originou, tomadas as devidas precauções, a matéria publicada na seção Aparte, deste jornal, na terça-feira (16.10).

Em si, o texto desagradou aos dois lados, Novo e PSDB. O primeiro, porque se descrevia uma questão que gerava constrangimento, mas que retratava um fato: as estimulações do instituto contratado não oficialmente por desconhecido. O lado tucano não gostou por retratar uma possível rasteira, ainda não contabilizada, que reuniu 40 participantes à procura de uma luz na escura realidade de uma campanha nascida bem e transformada em pesadelo.

Repita-se que o jornal, apesar de ter ciência do nome do candidato atingido e, consequentemente, do lado que se pretendia beneficiar, silenciou ambos.

As atividades da pesquisa, entretanto, procuravam uma desconstituição moral, consequentemente eleitoral, de um, e isso, além de repugnante, aponta a carência de argumentos melhores. Nota-se a baixaria da velha política em momento de apuros.

Como disse a presidente Dilma, “para ganhar se faz o diabo”. Nesse caso, incinerar, sem defesa, várias pessoas, delegados, promotores, juízes, apesar de o autor da queixa ter sido indiciado por denunciação caluniosa.

Por um dos participantes a “pesquisa” chegou à redação do jornal. Relatou a leitura de uma peça escabrosa do processo, realizada por uma pesquisadora, apresentando cenas de um suposto estupro de uma menor de 5 anos. Pior, realizado por vontade da mãe, colocando a menina no colo do companheiro consciente. A reação, como seria previsível, foi avassaladora. Sem explicar o desfecho do inquérito, que considerou criminosa a acusação de fatos julgados falsos e inexistentes.

Quem já ouviu um caso desses? E qual a necessidade de ensaiar a reação de um terceiro?

Mais ainda se apercebeu ao longo da semana: quem teria dúvida de explodir um adversário com fatos documentados e verdadeiros dessa dimensão?

Nunca se revelou aos entrevistados que o caso estava encerrado, que a queixa investigada era falsa e que o autor foi indiciado por denunciação caluniosa. O que se entende de alguém sem qualquer escrúpulo que quer explodir um para deixar outro com a via aberta

Mas para isso precisava de alguém com caradura para encenar uma fraude eleitoral desse tamanho, alguém que não se deu por impedido de ser o intérprete de um episódio traumático.

Depois de a matéria ser colocada nas páginas do jornal (sem citar nomes de um e de outro), o deputado Sargento Rodrigues passou a perder o equilíbrio e se transformar numa metralhadora giratória. Isso apesar de se apresentar como advogado e saber que o processo transitou em julgado sem deixar brechas. Usou assim a tribuna e as redes sociais para jogar no ventilador acusações chocantes, acabrunhantes, desqualificando a delegada, o promotor de Justiça e o juiz do caso e, por tabela, arrasando e expondo à execração uma mãe julgada inocente e uma jovem, hoje de 11 anos, que vivem numa pequena cidade de interior. Pediu uma comissão jacobina com outros deputados para incendiar noticiários e esparramar dúvidas nas redes sociais.

O deputado, em que pese a boa votação conseguida, é um criador de casos, como a recente invasão do Palácio da Liberdade. Mas a trajetória dele se calça na primeira greve dos policiais ao lado do Palácio, episódio que terminou com a morte de policial atingido por bala. As consequências trágicas com resultado eleitoral são instrumentos perigosos, um dia acabam por não dar certo.

Nos pronunciamentos do Sargento apoiador, ele festeja a prisão do tucano Eduardo Azeredo ao mesmo tempo em que apoia o tucano Anastasia. Apresenta-se como defensor da moral com inaudita truculência quando o interesse dele está em jogo. O TEMPO, com cuidado para não desferir acusações, informou um fato, a pesquisa real, estranha e tendenciosa. Deixou livre seu leitor para interpretar quando ainda não se podiam imaginar as verdadeiras facetas da pedra que estava sendo preparada para encantar o eleitorado mineiro.

Fosse verdade o suposto estupro abominável, precisaria de pesquisa e de ensaio de reação? Ou alguém estudava a forma eleitoreira de tirar vantagem?

Destaco que cabe à mãe pedir reparação por danos morais por desestruturar a vida dela e da filha com bravatas protegidas pela imunidade. Ainda cabe à delegada, ao promotor e ao juiz que trataram da investigação cobrar reparação. Isso não deve ser deixado barato, e até a Assembleia resguardar o decoro que seu dever.