O TEMPO

O Brasil da bandidagem

Parecem não ter qualquer consideração, solidariedade, preocupação e, mais do que isso, não entendem que uma sociedade desequilibrada é uma bomba de efeito nuclear

Por Vittorio Medioli
Publicado em 15 de maio de 2022 | 03:00
 
 

O Brasil é um país de mil contradições, do faz de conta, de elites tanto de esquerda quanto de direita, consumidas pelo vício do oportunismo, pelo cinismo do egoísmo. A sociedade, em seu conjunto, é obtusa, sem visão de futuro. Nossos políticos vivem obcecados para se eleger, e sua visão se esgota nas próximas eleições e no afã de se manter nas mordomias desfaçadas que o Brasil concede a seus representantes, de todas as tendências e convicções. Sempre convergem e se decretam condições remuneratórias despropositadas em relação à miséria de grande parcela dos brasileiros. Parecem não ter qualquer consideração, solidariedade, preocupação e, mais do que isso, não entendem que uma sociedade desequilibrada é uma bomba de efeito nuclear. 

Vive-se o dia à procura do máximo ganho com o mínimo esforço. O rico brasileiro é a antítese de Elon Musk. 

Aqui vale “copia e cola”. A mediocridade criativa e inovadora tem por aqui um dos maiores fenômenos mundiais. 

Os maiores grupos econômicos brasileiros são “monopolistas”, ou quase, detentores do usufruto de jazidas inesgotáveis de recursos naturais. Vale e, sobretudo, Petrobras se beneficiam de lucros fáceis, sem qualquer obrigação de verticalização de suas atividades, sem serem levadas ao reinvestimento no desenvolvimento brasileiro. De que adianta um monopólio colocado a serviço de acionistas minoritários privados? É uma aberração; monopólio é em defesa da soberania e do desenvolvimento nacional. Nestes dias pagam os brasileiros um tributo aos expropriadores do bem da nação para atingi-la em cheio. 

Eu acredito que não é apenas um interesse econômico, mas também um interesse político de criar um ambiente contrário ao governo. 

No último dia 5, o presidente Bolsonaro definiu como “estupro” o lucro da Petrobras de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre, a que se somou um aumento do diesel de 8,89% na última terça-feira. 

Cerca de 70% do diesel consumido no Brasil vem das refinarias da Petrobras, segundo a empresa. E não vem mais porque o Brasil exporta aquilo que não tem condição de processar em suas refinarias obsoletas e caducas. 

Os 30% de diesel restantes são ofertados por outras refinarias, privadas, e sobretudo trazidos ao país por importadoras a preços de mercado. 

Sem um reajuste no mercado interno, dizem os arautos da estatal, “corria-se o risco de importadores não conseguirem comprar diesel no mercado internacional a preços competitivos para revendê-lo internamente, gerando risco de desabastecimento”. 

Ora, não existe qualquer planejamento, acordo de longo prazo; o monopólio da Petrobras vive dentro de regras de mercado internacional, aumentando seus lucros desmedidamente. 

Os investimentos da Petrobras para aumentar sua capacidade de refino e autossuficiência, desatrelando-se, assim, do mercado externo, foram consumidos na corrupção do petrolão, que deixou os culpados soltos e impunes. Já voltaram a tramar contra os cofres públicos porque apenas deles conseguem se fartar; não possuem tecnologia, mas apenas ousadia criminosa para conjugar o verbo “corromper” em todas as suas variações. Inovação esse grupo tem na forma de roubar os bens da nação. Só isso, sua inutilidade, periculosidade, é pior que um vírus pandêmico. Destroçaram a economia nacional. 

Quando Lula lançou a Refinaria Abreu e Lima, em sua terra natal, para processar 230 mil barris de petróleo por dia com técnicas que otimizavam o refino de diesel, optou pela tecnologia dessas organizações criminosas disfarçadas de empreiteiras. A refinaria pernambucana teve sua capacidade reduzida pela metade (115 mil barris de petróleo/dia), e seu custo de implantação foi de US$ 160 mil por capacidade de refino de barris de petróleo/dia. Na Coreia, uma usina de 800 mil barris de petróleo/dia custou apenas US$ 5.624. 

Quer dizer que a refinaria (US$ 5.624 x 115 mil) deveria custar cerca de US$ 700 milhões, enquanto foram consumidos no maior caso de corrupção do planeta US$ 18,6 bilhões nas “saudosas épocas” em que as empreiteiras frequentavam a cozinha do Palácio da Alvorada (veja o documentário “Brasil em Vertigem”). 

Com os US$ 17,9 bilhões roubados a pretexto de tecnologia brasileira, se o Brasil tivesse contratado tecnologia coreana com US$ 18,6 bilhões (divididos por US$ 5.624/barril) teria construído refinarias com capacidade de 3,3 milhões de barris por dia, ou seja, mais de quanto extrai por dia, e estaria exportando não apenas óleo bruto, mas derivados com alto valor agregado. Isso significaria lucro sadio, sustentável, e não um assalto aos bolsos brasileiros. É preciso dar um basta ao mecanismo que escraviza o Brasil e o submete ao interesse de especuladores e bandidos.