Mensagens

Com pandemia, Bolsonaro aumenta pronunciamentos na televisão

Em menos de 40 dias, o presidente fez cinco pronunciamentos em cadeia nacional, um recorde entre os presidentes da República nos últimos 25 anos

Por Marcelo da Fonseca
Publicado em 19 de abril de 2020 | 19:21
 
 
Jair Bolsonaro Foto: TV Brasil

Em meio à pandemia do coronavírus e com cenário político turbulento, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aposta no uso da cadeia nacional de rádio e televisão para enviar suas mensagens à população, alfinetar supostos adversários e defender seu governo. Em menos de 40 dias, o presidente fez cinco pronunciamentos em cadeia nacional, um recorde entre os presidentes da República nos últimos 25 anos. 

Na noite do último dia 8, Bolsonaro foi ao ar pela décima vez ao se dirigir à nação desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2019. Em 15 meses de governo, Bolsonaro fez três pronunciamentos a mais do que o ex-presidente Michel Temer (MDB), que ficou por dois anos e meio no Planalto e falou em rede nacional sete vezes. O emedebista chegou a fazer dois pronunciamentos no mesmo mês, em abril de 2018, quando seu governo sofria ataques após denúncias de corrupção envolvendo os empresários da JBS. 

Ao longo de seis anos e quatro meses na Presidência, Dilma Rousseff (PT) usou a cadeia nacional de rádio e TV por 11 vezes, na maioria delas para mandar mensagens em datas comemorativas, como o Dia Internacional da Mulher, Dia do Trabalhador e Natal, mas usou os pronunciamentos para endossar ações do seu governo durante as manifestações de 2013 e defender os gastos em infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014. Entre maio e junho de 2013, a petista se dirigiu à nação duas vezes como resposta às manifestações que tomaram as ruas. 

Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os presidentes usaram as cadeias nacionais por oito e nove vezes, respectivamente. Os dois se dirigiram à população para comentar crises econômicas, anunciar lançamento de programas e encaminhamento de projetos ao Congresso Nacional, além de falar sobre datas comemorativas. 

Em 2001, durante a crise energética que ficou conhecida como “apagão”, o tucano pediu aos brasileiros que fizessem um esforço para gastar menos energia e contribuíssem com a política de racionamento. Já em 2008, o petista garantiu à população que o país estaria pronto para enfrentar a crise financeira e que ela não assustava o governo brasileiro. 

No levantamento feito na Biblioteca da Presidência da República não estão pronunciamentos e discursos feitos antes de 1995, ou seja, nos governos Itamar Franco, Fernando Collor e José Sarney, que assumiu após o período da ditadura militar. Para incluir todos os presidentes, a reportagem pediu ao Palácio do Planalto todos os pronunciamentos em cadeia nacional feitos desde 1985, mas não houve retorno.

Os pronunciamentos em cadeia de rádio e televisão são regulamentados por um decreto de novembro de 1979 que determina que as emissoras de radiodifusão podem ser convocadas de forma obrigatória a divulgar gratuitamente assuntos relevantes para a sociedade. As convocações podem ser feitas pelos representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.