Um conflito longe de terras mineiras pode acabar afetando o recebimento de salário dos servidores públicos em Minas Gerais. Os ataques entre Estados Unidos e Irã, no Oriente Médio, têm feito a Bolsa de Valores amargar quedas consecutivas nos últimos dias. E o leilão da antecipação de recebíveis do nióbio, operação tida como a salvação para colocar em dia o vencimentos do funcionalismo público durante seis meses, vai ocorrer justamente na Bolsa, que tem fechado no vermelho.
O secretário de Governo do Estado, Bilac Pinto, disse que a crise internacional afeta a operação do Estado “na medida em que deixa o mercado instável”. “A operação será realizada na Bolsa, por isso a instabilidade não é boa. Creio que, com a diminuição da crise, o mercado voltará ao normal, e isso terá sido um efeito momentâneo”, projetou o secretário.
Bilac Pinto lembrou também que nesta semana o mercado financeiro fechou em queda por quatro dias seguidos, de terça-feira até ontem. Questionado se o governo alterou algum procedimento da operação devido à instabilidade, o secretário afirmou que “continuam com a análise da operação”.
Para o coordenador do curso de administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, o momento atual é de cautela para os investidores.
“Essa crise internacional vai depender muito do encaminhamento. A possibilidade de um conflito armado, que parece ser bem baixa, gera instabilidade. Então, a tendência do mercado geral é ficar um pouco precavido quanto a isso. É questão de timing; na medida em que a solução do conflito venha, o problema estará resolvido”, analisou.
Coutinho afirmou, entretanto, que grandes investidores estrangeiros, neste momento, não costumam aportar recursos fora dos países considerados centrais, como os próprios Estados Unidos e o mercado europeu.
O Aparte procurou deputados estaduais, da base e oposição, que afirmaram não ter tido conhecimento de uma possível interferência na operação do nióbio. O deputado João Vítor Xavier (Cidadania), relator do texto substitutivo do projeto que foi aprovado na Assembleia Legislativa em relação à antecipação dos recebíveis, porém, disse que o governo pode estar criando subterfúgios para justificar o atraso em relação ao prazo prometido.
“Está na verdade buscando muletas para uma dificuldade em um processo que por si só é difícil, com guerra ou sem guerra. O governo pressionou demais com a promessa de que faria o leilão, então agora tem que arrumar justificativa para isso. Acho que é uma desculpa, todo mundo sabia que não era um processo de 20 dias, como prometido, cansamos de falar isso, mas o governo queria aprovar de qualquer jeito e a qualquer custo. Aí usou a desculpa do 13º salário. Como já passou, busca usar outra”, disparou.
O parlamentar afirmou que não é possível estruturar uma operação desse tamanho na Bolsa com menos de um mês. “Quem conhece um pouco de mercado financeiro sabe que é uma operação complexa. É claro que uma instabilidade econômica impacta tudo, o petróleo é a principal commodity do mundo, você pode fazer vários tipos de conjectura de retração da economia, diminuição de investimento, e isso impactaria o aço e, por consequência, o nióbio. Mas acho que não fizeram (a operação) ainda porque demora mesmo, mas não por isso (conflito)”, argumentou o deputado.
O Aparte procurou a Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), que não respondeu sobre os entraves causados pelo conflito internacional. A pasta informou apenas que trabalha para realizar o mais rapidamente possível a operação financeira que garantirá a quitação do 13º salário para os servidores que ainda não receberam o benefício.