A Comissão de Educação e Cultura do Senado marcou para esta terça-feira (27) a votação de um projeto de lei que torna 12 de abril o Dia da Celebração da Amizade Brasil-Israel. O debate acontece em meio à crise instalada entre as diplomacias dos dois países. O embate começou após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparar os ataques de Israel em Gaza na guerra contra o Hamas ao Holocausto, que foi a perseguição e o assassinato de judeus na Alemanha nazista por Adolf Hitler.
A proposta foi apresentada pelo Ministério das Relações Exteriores em 2013, quando Dilma Rousseff (PT) era presidente da República. A intenção foi substituir um outro texto aprovado pelo Congresso Nacional, que definia 29 de novembro como o dia para a celebração anual. O governo Dilma propôs, então, que a comemoração fosse em 12 de abril por um marco diplomático entre Brasil e Israel, com a concordância entre os dois países.
O texto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 2019 e, na Comissão de Educação do Senado, tem como relator o senador Carlos Viana (Podemos-MG). Ele se manifestou de forma favorável e alegou que o projeto tem uma "importância ímpar" em parecer apresentado em novembro de 2023. Se aprovada, a proposta ainda terá que passar pelo plenário do Senado.
"Atualmente, a existência de uma comunidade de mais de 10 mil brasileiros em Israel e de cerca de 100 mil judeus no Brasil leva à existência de fortes vínculos culturais e sociais entre essas nações amigas. Israelenses consideram o Brasil um país de grande interesse por sua identidade multicultural e pela diversidade de suas paisagens e centros urbanos; por outro lado, brasileiros visitam Israel para conhecer seus monumentos religiosos e históricos e desfrutar de uma sociedade moderna e vibrante", escreveu.
Em entrevista ao Café com Política da FM O TEMPO 91,7 em 22 de fevereiro, o senador mineiro disse que “faria a mesma coisa” que Israel tem feito na Faixa de Gaza, caso fosse presidente do Brasil e o país vivesse uma situação semelhante. A ação de Israel é justamente o que motivou a fala de Lula, em crítica intensa ao país do Oriente Médio.
Viana disse ainda que o Hamas promove uma “jihad” no Oriente Médio, o equivalente a uma guerra em nome da religião. Segundo ele, o conflito não tem relação com a disputa territorial. Viana ainda classificou a fala de Lula como “muito infeliz”.
Relembre o início da crise entre os dois países
Na Etiópia para missão oficial em 18 de fevereiro, Lula disse: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus". A declaração gerou uma crise diplomática.
O primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu (a quem os governistas direcionaram a crítica de Lula), afirmou no dia que as declarações "são vergonhosas e graves". Já o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, disse que Lula é "persona non grata" no país, além disso, lee exigiu uma retratação.
Os dois levaram o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, para uma reunião no Museu do Holocausto. A ação foi vista como uma afronta pelo governo brasileiro, que convocou Meyer de volta ao país. O governo brasileiro também convocou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para prestar explicações.
No Congresso, Viana, que também preside o grupo parlamentar Brasil-Israel, foi à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e apresentou um convite ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, para falar sobre a declaração de Lula. O requerimento se estendeu ao ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência sobre assuntos internacionais. O pedido ainda não foi analisado.