Lava Jato

Delator vai relatar propina em obra da Cidade Administrativa  

Segundo Léo Pinheiro, da OAS, suborno chegou a 3% do custo total do serviço da empreiteira

Sáb, 25/06/16 - 21h16

Brasília. O empreiteiro Léo Pinheiro, sócio e ex-presidente da OAS, vai relatar, com base em documentos, que pagou suborno a auxiliares do então governador de Minas Gerais, o hoje senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, durante a construção da Cidade Administrativa. Trata-se da mais cara obra do tucano nos oito anos em que permaneceu à frente do Estado, entre 2003 e 2010.

O relato de Pinheiro sobre o centro administrativo, um complexo inaugurado em 2010 para abrigar 20 mil servidores, faz parte do acordo de delação premiada que está sendo negociado com a força-tarefa da Lava Jato. O acordo ainda não foi assinado.

Segundo Pinheiro, a OAS pagou 3% sobre o valor da obra a um dos principais auxiliares de Aécio, Oswaldo Borges da Costa Filho. Conhecido como Oswaldinho, ele é apontado por tucanos e opositores como o tesoureiro informal de seguidas campanhas de Aécio, entre 2002 e 2014. Léo Pinheiro relatou a investigadores que tem provas do caminho que o dinheiro percorreu até chegar ao assessor do tucano.

Aécio nega que tenha recebido qualquer recurso ilícito e que tenha havido irregularidades na obra.

Estimada em R$ 500 milhões, a obra da Cidade Administrativa foi orçada em R$ 949 milhões, mas acabou custando R$ 1,26 bilhão, segundo documentos do governo de Minas obtidos pela “Folha de S. Paulo”, mas que a atual administração, do PT, não comenta. Esse foi o custo das obras de engenharia. Com mobiliário e outros itens, o gasto total alcança R$ 2,1 bilhões, ainda de acordo com os dados obtidos pela “Folha”.

Junto com Odebrecht e Queiroz Galvão, a OAS fez um dos três prédios do complexo, o Edifício Gerais. No consórcio, a Odebrecht era a líder, com 60% do contrato. A OAS respondia por 25,71% e a Queiroz Galvão, por 14,25%. Como a OAS recebeu R$ 102,1 milhões, os 3% da suposta propina seriam equivalentes a pouco mais de R$ 3 milhões.

Tesoureiro. Oswaldo é contraparente de Aécio: ele é casado com uma filha do padrasto do senador, o banqueiro Gilberto Faria (1922-2008). Após vencer a eleição para o governo em 2002, o tucano colocou-o para presidir a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, a Codemig, empresa pública dona de mineradoras, hotéis e fontes de água mineral.

Foi a Codemig que fez a licitação em 2007 e cuidou da obra da Cidade Administrativa, o que foi considerado incomum, já que Oswaldinho teve papel na arrecadação da primeira campanha de Aécio ao governo.

A família de Oswaldo também é proprietária de uma empresa de táxi-aéreo. Ele tem uma coleção de carros raros, entre eles um Rolls-Royce que Aécio costumava usar quando era governador.

‘Declarações falsas e absurdas’

Brasília. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse em nota enviada à “Folha de S. Paulo” que desconhece os relatos feitos pelo empresário Léo Pinheiro sobre suposta propina em sua administração e que considera as declarações “falsas e absurdas”. A nota afirma que acusações como essas precisam de provas, “sob o risco de servirem apenas a interesses outros que não os da verdade”.

O senador afirma estranhar o que chama de vazamento “deste trecho” da delação de Pinheiro, da OAS, que o cita como beneficiário de propina. Segundo nota enviada pela assessoria de imprensa do senador, as obras da Cidade Administrativa foram contratadas por R$ 948 milhões em 2007 e tiveram custo final de R$ 1,26 bilhão, em 2010.

Entre as razões do aumento está a construção de um túnel que não estava previsto no projeto inicial e que demandou uma nova licitação. O comunicado aponta que os aditivos firmados na construção da Cidade Administrativa “corresponderam a 10% do valor inicial, percentual inferior aos 25% autorizados pela Lei 8.666 para obras públicas”.

A assessoria de Aécio reitera que “a obra foi conduzida com absoluta transparência e controle da sociedade”, inclusive com aprovação de órgãos de controle do Estado. A nota afirma ainda que, antes da abertura da licitação, os editais foram submetidos a avaliação prévia do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado. “Todas as especificações técnicas do projeto tiveram acompanhamento e monitoramento da empresa de auditoria externa, atestando e assinando juntamente com a gerência da obra”, diz a nota divulgada.

A assessoria de imprensa do senador não quis se pronunciar sobre os relatos de que Oswaldo Borges da Costa atuou como “tesoureiro informal” das campanhas do tucano. Procurado, o empresário Oswaldinho, como é conhecido, não atendeu as ligações nem retornou.