O governo Lula (PT) segue usando a ‘linguagem neutra’. Além de alguns eventos oficiais e da posse de ministros terem começado com os pronomes “todos, todas e todes”, a Agência Brasil, veículo oficial de jornalismo vinculado à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), usou, pela primeira vez, a terminologia em um texto publicado nesta terça-feira (24). A ideia é incluir na língua pessoas não-binárias, de gênero fluído ou trans que preferem a denominação ao invés de palavras formalmente concebidas como “masculinas” ou “femininas”.
A reportagem publicada, “Parlamentares eleites reúnem-se pela primeira vez em Brasília”, relata as atividades do 1º Encontro de LGBT+eleites, realizado no fim de semana na capital federal, que contemplou parlamentares LGBTA+ eleitos para a Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas país afora.
Ao final da reportagem, a autora explica que usou a linguagem neutra a pedido dos parlamentares entrevistados. "A pedido das parlamentares eleites, a repórter utilizou o gênero neutro nas construções das frases", diz.
"Discutir os desafios da comunidade LGBTQIA+. Este foi o objetivo do 1º Encontro de LGBT+eleites realizado nos dias 20 e 21 de janeiro em Brasília. O evento reuniu parlamentares eleites para a Câmara dos Deputados e também para as Assembleias Legislativas dos Estados. O encontro antecede o Dia Nacional de Visibilidade Trans, lembrado em 29 de janeiro", afirma um trecho da reportagem.
"A deputada federal Duda Salabert, eleita pelo PDT de Minas Gerais, é uma das duas parlamentares transexuais eleites que vai atuar no Congresso Nacional e que estava no evento. A professora de literatura foi a vereadora mais votada em Belo Horizonte, nas eleições de 2020, e agora assume um desafio ainda maior: levar as pautas defendidas pela comunidade para a Câmara", prossegue o texto.
Na linguagem neutra, o masculino genérico é evitado. A palavra "todos", por exemplo, é grafada como "todes". A linguagem neutra não é inédita no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em várias cerimônias de posse de ministros, foi usada a palavra "todes".
Em 2 de janeiro, por exemplo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, iniciou seu primeiro discurso com "boa tarde a todas, a todos e a todes" e foi aplaudido pela plateia. A expressão também foi utilizada pela locutora do evento que empossou Fernando Haddad como ministro da Fazenda.
Crítica
O uso da linguagem neutra, por exemplo, é alvo de críticas tanto de alguns gramáticos como do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. O deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL), que apresentou, durante o mandato como vereador de Belo Horizonte, um projeto contra o uso da terminologia na capital, criticou a decisão da EBC.
“A educação no Brasil deve estar muito boa para colocarem a linguagem neutra nos discursos. É uma perda de tempo”, ironizou. "Eles começam na cultura e desaguam na política. É uma forma de deturpar a língua portuguesa. Mostra-se as prioridades do governo. Ao invés de prezar pela melhoria da estrutura da escola, quer ficar lacrando”, completa o parlamentar.
Inclusão
A professora de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em temas ligados às discussões de gênero, Joana Ziller, reforça que o uso da “linguagem neutra” é “um passo para respeitar todas as pessoas”.
"Quando pensamos na binaridade e não-binaridade de gênero, temos um contingente maior de pessoas não-binárias que continuem sendo cidadãs, e é importante que sejam incluídas. Também, é importante pensar que não seja uma linguagem neutra, mas uma linguagem que as contempla”, pontua.
“A língua é viva e não vejo as pessoas que lutam contra a igualdade lutarem contra mudança em outras formas de linguagem. Não querem que, em Minas, volte-se a dizer ‘vosmecê’ ao invés de ‘cê’”, conclui a professora.
Evento
A reportagem da Agência Brasil informou que 79 candidatos transexuais e travestis disputaram vaga na Câmara e em Assembleias estaduais em 2022. Do total, quatro foram eleitos (duas para o Congresso e duas para assembleias estaduais), além de uma deputada estadual intersexo. Um dos principais temas discutidos no evento, segundo o texto, foi a violência contra a comunidade LGBTQIA+.
A reportagem traz ainda depoimentos da deputada federal transexual eleita Erika Hilton (PSOL-SP) e da deputada estadual intersexo eleita Carolina Iara (PSOL-SP). O evento contou também com a participação de Symmy Larra, indicada para a secretaria de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos. (Com Folhapress)