A declaração conjunta que encerrou a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, divulgada nesta sexta-feira (14) após encontro do brasileiro com o líder chinês, Xi Jinping, defende o diálogo e a negociação para buscar o fim da Guerra da Ucrânia, enfrentamento à crise climática, reforma do Conselho de Segurança da ONU, entre outros temas.

A declaração, que conta com 49 itens, traz como principal ponto a informação de que o Brasil reiterou aderir “firmemente ao princípio de uma só China”. Para o governo brasileiro, o governo da “República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China, enquanto Taiwan é uma parte inseparável do território chinês”.

O Brasil reconhece a China desde 1974. Dessa forma, concordou com a premissa de uma só China, mas a declaração, em comunicado oficial emitido à imprensa, ocorre em meio às tensões crescentes entre Estados Unidos e China na região – no início do mês, os norte-americanos iniciaram exercícios militares nas Filipinas dias após os chineses fazerem manobras militares no estreito de Taiwan.

China e Brasil não dizem como estabelecer a paz entre Rússia e Ucrânia

Já sobre o diálogo e a negociação para buscar o fim da Guerra da Ucrânia, o documento não traz nenhum detalhe. A declaração conjunta não cita propostas, apenas indica que o Brasil e a China vão continuar debatendo o assunto. Os dois países não condenam a invasão russa. A Rússia é grande aliada da China.

“As partes afirmam que diálogo e negociação são a única saída viável para a crise na Ucrânia e que todos os esforços conducentes à solução pacífica devem ser encorajados. O Brasil recebeu positivamente a proposta chinesa (...) e a China recebeu positivamente os esforços do Brasil em prol da paz. As partes apelaram a que mais países desempenhem papel construtivo para a promoção da solução política”, diz o documento divulgado nesta sexta.

China reconhece desejo do Brasil em ter assento em conselho da ONU

Também na declaração final da visita de Lula, o governo chinês afirma que “compreende e apoia a aspiração do Brasil de desempenhar papel ainda mais proeminente na ONU”. 

O texto diz ainda que os dois países “reconheceram a necessidade de reformar a ONU e o seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-los mais representativos e democráticos”. Mas a declaração não defende categoricamente a pretensão de um assento permanente no Conselho para o Brasil.

Durante os primeiros dois mandatos de Lula, o Brasil se engajou em campanha diplomática para que novos países adquirissem cadeira permanente no Conselho, tendo o Brasil como candidato. Hoje, apenas Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido têm assentos permanentes. O Brasil ocupa uma das 10 vagas não permanentes, preenchidas em rodízio.

Países falam em ação urgente contra mudança climática

Sobre a mudança climática, por meio dos presidentes Lula e Xi Jinping, Brasil e China reconheceram que o fenômeno representa “um dos maiores desafios de nosso tempo” e que o enfrentamento da crise contribui para “construir um futuro compartilhado de prosperidade equitativa e comum para a Humanidade”.

Os dois líderes afirmam que “os países desenvolvidos têm responsabilidade histórica pelas emissões de gases de efeito estufa e devem assumir a liderança na ampliação das ações climáticas”.

“O Brasil e a China enfatizam a necessidade de combinar uma ação urgente para o clima com a conservação da natureza para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo a erradicação da pobreza e da fome, sem deixar ninguém para trás”, diz o documento.

Lula e e Xi Jinping assinaram 15 acordos comerciais

Mais cedo, Lula e Xi Jinping assinaram 15 acordos comerciais, em áreas como exploração espacial, comércio, agricultura e notícias, dentre outros.

Há acordos envolvendo coprodução para televisão e cooperação entre agências de notícias públicas dos dois países. Há ainda acordos para certificações sanitárias e certificações para a entrada de produtos animais.

Durante o encontro, Lula afirmou que pretende aprofundar a relação entre os dois países em diversas áreas nos próximos quatro anos. O brasileiro ressaltou que “ninguém” poderá proibir essa aproximação.

“Ontem fizemos visita à Huawei, em uma demonstração que queremos dizer ao mundo que não temos preconceito em nossas relações com os chineses. Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”, disse Lula na reunião aberta entre os líderes.

No fim da tarde (hora local), houve uma cerimônia de troca de presentes entre os dois presidentes, registro de fotos e um jantar oficial, oferecido pelo governo da China.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. O volume comercializado entre os dois países em 2022 foi de US$ 150,4 bilhões. O ano de 2023 marca o cinquentenário do início das relações comerciais entre Brasil e China. A primeira venda entre os dois países aconteceu em 1973, um ano antes do estabelecimento das relações diplomáticas sino-brasileiras. (Com Estadão Conteúdo)

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