Após ser convidado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não vai comparecer à reunião entre os líderes da Venezuela e Guiana para discutir o território de Essequibo, na próxima quinta-feira (15). Ele escalou para representá-lo Celso Amorim, que é o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República. A informação foi confirmada por fontes do Palácio do Planalto ao O TEMPO em Brasília.

Inclusive, ele despacha e tem gabinete dentro do Palácio do Planalto. Homem de confiança do petista, o chanceler esteve no posto que é hoje de Mauro Vieira (ministro de Relações Exteriores) durante os dois mandatos anteriores de Lula. Amorim esteve há duas semanas em Caracas, capital da Venezuela. 

O encontro está previsto para ocorrer em São Vicente e Granadinas, país do Caribe. Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, têm reunião agendada para discutir "assuntos relacionados à controvérsia fronteiriça" referente ao território do Essequibo, região rica em petróleo. A tensão internacional começou após o ditador venezuelano aprovar um referendo popular para anexar 70% do território vizinho. 

Os dois líderes concordaram que este encontro será intermediado pela Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), e pela Comunidade do Caribe (Caricom). A informação foi divulgada por um comunicado assinado pelo primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves. 

No texto, foi mencionado que o convite para participar da reunião também foi estendido a Lula, para atuar como observador. 

O convite ao petista ocorre após ele e Maduro conversarem por telefone no sábado. Na ligação, segundo nota da Presidência da República, o presidente brasileiro expressou sua preocupação com a crise entre os dois países, e pediu para que o presidente da Venezuela não tome medidas unilaterais que visem escalar a tensão no continente.  

Por ora, a viagem de Maduro à Rússia em busca de apoio de Vladmir Putin foi adiada. Segundo apuração da Folha de S. Paulo, o Palácio do Itamaraty fez chegar à Maduro o mal-estar que a viagem provocaria e poderia agravar a tensão no continente.  

A Guiana conta com apoio dos Estados Unidos, que iniciaram exercícios militares no espaço aéreo do país. A Casa Branca fez chegar ao governo brasileiro dois recados: importância de o Brasil liderar os esforços de paz entre os países vizinhos, e de fazer chegar à Maduro que as sanções internacionais continuariam sobre Caracas com eventual incursão militar sobre o território da Guiana.  

A postura de Maduro deixa Lula exposto, uma vez que o petista tem simpatia pelo líder Venezuelano. Para invadir a Guiana, o exército de Maduro teria que passar pelo território brasileiro. O petista fez chegar aos auxiliares que não toleraria uma invasão.  

Ainda assim, o presidente brasileiro não adotou publicamente um tom duro e crítico com Maduro, a exemplo do que tem feito sobre conflitos entre Israel e o grupo Hamas, e Rússia e a Ucrânia.  

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já disse que o governo federal está “atento” para o Brasil não ser “um instrumento de um incidente diplomático” entre a Venezuela e a Guiana.  

No começo da semana passada, a pasta que ele comanda anunciou reforço de militares em Roraima. Após a unidade de Pacaraima, a cidade mais perto da Venezuela, ganhar mais 60 militares – até então tinha 70 – o Exército brasileiro vai enviar 28 veículos blindados para a região. Também na quarta-feira, Múcio havia dito que a região da tríplice fronteira está “garantida” pelas Forças Armadas – e não será usada por tropas venezuelanas para invadir a Guiana.